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A medicina é a ciência das verdades transitórias e das mentiras que nunca somem

Do site da Crescer

A difusão de fake news impactam em prejuízos diversos para a vacinação infantil no país

por Dr. Moises Chencinski - colunista

28/11/2023

Essa última semana me acentuou algumas sensações bem desconfortáveis, que já sinto há algum tempo. Quando será que a ciência deixará de ser questionada ou falsificada ou manipulada para iludir ou para proveito próprio de gente mal-intencionada?

Por isso, mesmo a coluna sendo sobre aleitamento materno, vou abrir um espaço para me expressar sobre o tema. Fundamental. Importante. Revoltante. Fiquei muito incomodado.

Eu tenho realmente muita dificuldade em entender o que se passa na mente desse grupo de pessoas que tenta (e consegue) difundir fake news, trazendo mais insegurança ao mundo do que ele já necessita por conta das guerras, das questões climáticas e de outras tantas que já nos atormentam há séculos.

Eu poderia listar em ordem alfabética, em ordem de número de pessoas prejudicadas, em ordem de dinheiro perdido. Mas quero abordar um dos temas mais recorrentes e se transformam em “pandemias” por prejudicarem pessoas do mundo todo. Mesmo assim, vou me ater ao que acontece no Brasil.


COVID-19

Estamos passando por quase 4 anos de dor, com mortes, perdas, incertezas por conta da COVID.

Os cientistas tiveram que se esforçar, aprender e se adaptar rapidamente para se ajustar e se capacitar nos cuidados. Muitos medicamentos e tratamentos foram propostos, e até impostos, mesmo que a ciência comprovasse sua inutilidade e até os riscos provocados pela sua utilização indiscriminada e injustificada.

O debate e os questionamentos vinham, e continuam aparecendo, de todos os lados, e, principalmente, mas não só, de quem não é da área da ciência, baseados em teorias de conspiração. “Estudos” sem nenhum rigor científico, e que não passariam pela análise mais primária de credibilidade e validade, confrontavam os trabalhos e as pesquisas de gente muito séria, muito comprometida, e que traziam, a cada dia, uma nova esperança. Nem um número incontrolável de adoecimentos, internações, sequelas e mortes foi suficiente para que essas fake news fossem combatidas e apagadas do mundo e das mídias.

Até que chegaram as vacinas, com muita pesquisa, muito mais do que imaginamos, com grandes chances de controlar a pandemia. E os resultados são muito claros. Uma só dose não seria suficiente. O vírus tinha mutações que geravam novas pesquisas até que, no dia 5 de maio de 2.023, a OMS declarou o final da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional referente à COVID.

Mais de 700.000 mortes no Brasil. Cada um de nós teve um familiar, um amigo ou conhece alguém que nos deixou por conta da doença e suas complicações. Todas poderiam ter sido evitadas? Provavelmente não. Mas se as medidas de proteção fossem respeitadas (máscaras e lavar as mãos – inacreditável), se as vacinas pudessem ter chegado aqui antes (e até hoje se discute o que aconteceu para que elas não tenham chegado), certamente não lamentaríamos tantos desfechos ruins.

Temos vacinas mais eficazes e abrangentes, testes mais ágeis para identificar a doença mais precocemente, controle maior de contatos e sabe o que acontece?

Recebi de uma fonte, um vídeo que viralizou absurdamente, de um médico canadense que teve sua licença suspensa por conceder isenções médias à vacina de COVID e ao uso de máscaras, mesmo após ter sido notificado pelo Colégio de Médicos e cirurgiões de Ontário. Outro médico também de Ontário publicou uma “biblioteca organizada” com mais de 1.000 artigos revisados por pares mostrando que “as vacinas contra a Covid são venenos mortais e que podem ser apresentados quando for necessário falar sobre evidências científicas sobre sua malignidade”. Os estudos abordam “complicações que seriam ocasionadas pela vacina”, como, por exemplo, as questões de pericardites, miocardites, paralisias, hemorragias, entre outras, que já foram amplamente refutadas por estudos muito mais sérios e representativos. E os nossos “estudiosos” brasileiros aproveitaram a onda e, também, reacenderam a mesma discussão, divulgando mais vídeos sobre o tema, com as mesmas falsas alegações.

Essa forma de atuação anti-vacinas não é nova no mundo. A vacina de sarampo foi considerada causadora de autismo, por um estudo publicado em revista científica muito reconhecida. Esses dados foram desmascarados por uma investigação importante que comprovou falsificação dos resultados. O médico foi proibido de exercer a medicina em seu país de origem (Inglaterra). Mas os estragos causados por essa mentira persistem até hoje.

Enquanto isso, experimentamos, no Brasil, a queda bastante significativa da cobertura vacinal, não só relacionada à COVID, o que por si só, já é preocupante, mas também de todo nosso calendário infantil de imunizações que trouxe de volta o sarampo (doença grave, que pode ser fatal e que já não acontecia no Brasil há muito tempo) e o risco do ressurgimento de difteria, paralisia infantil, entre outras doenças preveníveis por vacinas. Vejam só o tamanho do prejuízo para a saúde infantil.

Vacinar é prevenção. E prevenir continua sendo melhor, mais eficaz, mais lógico e menos custoso do que remediar.

As vacinas são produtos seguros e salvam vidas. Não caiam nessa! Acreditem nas notícias verdadeiras e protejam nossas crianças. Vacinação é coisa séria”.
Dr. Renato Kfouri.

O dia em que alguém conseguir me provar que a OMS, a Sociedade Brasileira de Imunizações, a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Anvisa, a Academia Americana de Pediatria, entre muitos outros, estão, conscientemente ou sem estudos bem embasados, apoiando uma ação (vacinas de COVID ou qualquer uma delas) que coloque em risco a saúde infantil, por qualquer motivo que seja, eu abandono a Pediatria. Mas, enquanto isso não acontece, quaisquer fake news são passíveis de processos judiciais graves. Pense bem, antes de divulgar calúnias”.
Dr. Moises Chencinski

É. Hoje eu fiquei muito bravo. Em breve voltamos à nossa programação habitual do aleitamento materno.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545