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Grávidas podem tomar cerveja sem álcool?

Do site da Crescer

Para as mulheres que apreciam esta bebida, a dúvida pode surgir desde a descoberta da gestação. Saiba se o consumo está liberado (inclusive na amamentação) e quais os riscos associados, tanto para a mãe quando para o bebê

Por Guilherme Campos

02/12/2023

Não é novidade para as mulheres que, assim que o teste de gravidez dá positivo, é necessário adotar uma série de mudanças de hábito. Entre elas, está a restrição no consumo de bebidas acóolicas. Muitas gestantes questionam se apenas uma taça de vinho ou uma cervejinha de vez em quando farão mal ao desenvolvimento do bebê. A verdade é que nenhuma quantidade de álcool é considerada segura durante a gestação, como alerta a Academia Americana de Pediatria (AAP). Então, para aquela confraternização de fim de ano ou para um churrasco com os amigos, a cerveja sem álcool poderia ser a solução?

"Durante a gravidez, nós não temos nenhum valor mínimo de segurança com relação ao álcool, então até mesmo as cervejas sem álcool, que podem conter uma porcentagem pequena de álcool na composição, devem ser evitadas", explica a nutricionista materno-infantil Caroline dos Santos, da Clínica Neném da Nutri, de São Paulo.

Mas como as cervejas ditas sem álcool podem ter a substância em sua composição? Por mais que possa parecer confuso, é assim que está previsto na Instrução Normativa nº 65 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de dezembro de 2019. Segundo a IN, as cervejas que contenham um teor alcóolico de até 0,5% podem ser consideradas como sem álcool, podendo levar a descrição de "0% de álcool" em suas embalagens, mas já sendo suficientemente prejudicial para o bebê.

"A partir do momento que a mulher deseja ter um filho e está se programando para ter um bebê, o ideal é que ela já comece a mudar alguns hábitos que não sejam tão saudáveis, como o consumo do álcool", orienta a nutricionista. "Claro que acontece de mulheres descobrirem um gestação de surpresa, sem terem se programado para isso, mas a partir daí o consumo deve ser realmente evitado, até mesmo das cervejas sem álcool", aconselha Caroline.

O motivo dessa recomendação tão restrita — e até mesmo radical para algumas pessoas — são as graves consequências que o consumo de álcool pode trazer para o desenvolvimento do bebê. Os problemas vão desde o aumento do risco de aborto espontâneo até a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que é a principal causa de retardo mental e de anomalia congênita não hereditária nos bebês.

Afinal, o que a Síndrome Alcoólica Fetal pode provocar no bebê?

A SAF é um conjunto de transtornos no desenvolvimento do feto causados pelo consumo de álcool na gestação. Ela pode ocorrer porque a bebida alcóolica ingerida pela mãe cai na corrente sanguínea e chega até o útero, onde a placenta não consegue impedir a introdução da substância, que acaba sendo passada para o feto, como explica o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, médico associado à FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Os efeitos disso são inúmeros. "Podem ocorrer desde alterações comportamentais ao longo da vida, como síndrome hiperativa, demora no desenvolvimento neuromotordificuldade de aprendizadodemora para iniciar a falaalterações de visão e até malformações físicas no feto", afirma o obstetra. "Essas alterações podem ser percebidas nos ultrassons de final de gestação, mas também podem ser notadas apenas durante o desenvolvimento da criança e no aprendizado na escola", acrescenta Pupo.

A relação entre álcool e gestação é tão séria que a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), com apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), já realizou campanhas para alertar as gestantes sobre a importância de não beber durante os nove meses. "O movimento tem por objetivo chamar a atenção da população sobre os malefícios da exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica – evidências médicas demonstram que um só gole pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. São distúrbios que, revelados logo ao nascimento ou mais tardiamente, perpetuam-se pelo resto da vida, acarretando prejuízos físicos, psicológicos e ao sistema nervoso central", destacou a entidade, na iniciativa realizada em 2015.

A cerveja sem álcool pode ser consumida após o nascimento do bebê, durante a fase de aleitamento materno?

Como já mencionado anteriormente, o teor alcoólico da cerveja sem álcool não chega a ser zero, de fato. Portanto, a orientação para a gravidez vale também para o período da amamentação. "Segundo fontes que estudam e abordam a passagem de drogas e medicamentos através do leite materno, a recomendação ainda é evitar o consumo de álcool durante esse período por conta dos riscos para a mãe e para o bebê", afirma o pediatra Moises Chencinski, membro afiliado da Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno (WABA, na sigla em inglês) e colunista da CRESCER. Afinal, o fígado do bebê ainda é muito imaturo e pode não ser capaz de lidar com a sobrecarga causada pela metabolização do álcool.

O médico, no entanto, destaca que o consumo de bebidas alcoólicas é considerado “compatível com a amamentação”, tanto pela Academia Americana de Pediatria (AAP) quanto pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Mas não é exatamente recomendado. Isso significa que a mãe pode, sim, tomar um drinque eventualmente, desde que com alguns cuidados (veja mais abaixo). “O nível de álcool que chega até o leite está diretamente relacionado à quantidade ingerida”, alerta a pediatra Rossiclei de Souza Pinheiro (AM). Ou seja, quanto menor o volume, menos tempo ele vai levar para ser metabolizado e eliminado pelo organismo.

Moises Chencinski lembra que o consumo de bebidas alcóolicas pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para a criança e, por isso, não deve ser estimulado. "Pela ação do álcool, a lactante pode ter sonolência, que pode levar a um prejuízo no cuidado com o bebê. O álcool pode inibir o reflexo da ocitocina e a saída do leite, além de mudar características de cheiro desse leite, que atinge um pico máximo de 30 a 60 minutos depois de ser consumido, e chega perto de 95% da concentração que tem no sangue da mãe", diz.

Além disso, o bebê também tem uma baixa taxa da enzima que metaboliza o álcool. "Assim, se o consumo for maior, a criança pode apresentar maior sonolência, o que pode dificultar a amamentação, com alterações do padrão de sono e do tônus muscular e, no caso do consumo continuado e sem controle, até interferir no seu desenvolvimento", explica Moises.

Apesar dos riscos, caso a mãe decida beber durante a amamentação, deve fazê-lo com moderação e esporadicamente. Para a pediatra Rossiclei de Souza Pinheiro, mais perigoso do que os efeitos indiretos do consumo de álcool sobre a amamentação são as consequências diretas sobre o organismo da mãe. “Uma pessoa alcoolizada perde os reflexos e a atenção, o que é muito arriscado se ela estiver cuidando de uma criança”, conclui.

O que considerar antes de beber álcool enquanto amamenta

Idade do bebê: caso a mãe queira tomar um drinque durante o período do aleitamento, o ideal é aguardar a criança completar pelo menos seis meses, período em que a amamentação deve ser exclusiva, como recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS);

A quantidade de álcool: quanto maior o volume de álcool consumido, mais tempo o organismo irá levar para metabolizá-lo. Isso também varia conforme o peso de quem estiver bebendo, já que o organismo de uma pessoa mais pesada vai levar menos tempo para realizá-lo do que o de uma pessoa mais leve;

O horário da próxima mamadauma pessoa de tamanho médio (60 kg) leva de duas a três horas para metabolizar uma porção de álcool (um copo de cerveja ou uma taça de vinho, por exemplo). Sendo assim, a recomendação é de que a mãe aguarde, no mínimo, duas horas e meia para oferecer o peito novamente. Se forem duas doses, esse tempo aumenta para 5 horas e assim sucessivamente. Já se for em uma festa e não houver uma possibilidade de prever um limite de consumo, melhor que a mãe seja orientada a extrair e armazenar seu leite antes para que possa ser oferecido durante o período da comemoração. A retomada da amamentação dependerá de número das doses ingeridas;

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545