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O peso da amamentação

Do site da Crescer

"Amamentação até os 6 meses, alimentação de qualidade, sono regulado e estilo de vida mais saudável - nada que já não se soubesse, mas que fica cada vez mais comprovado", diz o pediatra Moises Chencinski sobre o papel dessas ações no combate à obesidade

por Dr. Moises Chencinski - colunista

29/01/2024

Entre as muitas preocupações quanto à saúde, no “mundo moderno”, uma delas já existe há muito tempo, já foi moda, já foi motivo de obras de arte, passou a ser motivo de piadas e bullying, transformou-se em uma das bandeiras quando o assunto é combate ao preconceito, continua sendo motivo de estudos, teve várias tentativas de intervenção, das mais brandas às mais drásticas, com muitos modismos e parece que, por uma série de razões, não teve e não terá solução breve.

Podia ser tanta coisa, né? Mas o tema é PESO, ou melhor, o SOBREPESO.

Essa é uma preocupação muito comum de adultos, por questões estéticas ou pelas complicações do estado de saúde, que podem influenciar, diretamente, na qualidade e quantidade de vida: diabetes, hipertensão arterial, alterações de colesterol e triglicérides, cardiovasculares, osteoartites, alguns tipos de câncer, gordura no fígado (esteatose), sedentarismo, distúrbios psicológicos... e essa lista só aumenta.

Já há algum tempo, essa situação vem chamando a atenção da comunidade científica para esse perfil da população por estar acontecendo a cada dia mais precocemente afetando adolescentes, crianças, gestantes de forma muito significativa.

PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR” (ainda e de novo). Até porque, o “tratamento” do sobrepeso é tão multifatorial, multiprofissional, e tão “multidifícil”, “multicomplicado”, “multitrabalhoso”, “multidesafiador”, que se torna quase inatingível e, quando se consegue uma evolução, de manutenção muito improvável.


Dados mundiais a respeito do tema

Muitas publicações foram feitas sobre a situação do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, com dados impactantes no Brasil.

O Observatório de Saúde na Infância da Fiocruz fez um levantamento na época pré e pós-pandemia. Segundo a Fiocruz, utilizando dados do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional):

- “...entre 2019 e 2021, período que engloba a pandemia de Covid-19, o número de crianças com excesso de peso no país cresceu 6,08%. O aumento entre os adolescentes foi ainda maior: de 17,2%”.

- Ainda segundo a mesma publicação, “entre 2021 e 2022, um recuo de 9,5% no número de crianças com excesso de peso e de 4,8% de adolescentes. Apesar do recuo, no entanto, as quantidades seguem altas. Em 2022, 14,2% das crianças brasileiras até cinco anos estavam com excesso de peso. Entre os adolescentes, o número é ainda maior: 31,2% deles estava com sobrepeso ou obesidade”.

Esses números, mesmo com a queda, representam quase 3 vezes mais crianças com sobrepeso no Brasil, quando comparados com a média mundial (14,2% contra 5,6%) e quase o dobro na faixa de adolescentes (31,2% contra 18,2%).

O Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) em Tempos de Pandemia, do Covitel 2.023, com dados coletados por telefone de 9.000 pessoas entre 18 e 24 anos, de todas as regiões do Brasil, informa que, em 2.022, 9% dessa população tinha um IMC acima de 30, aumentando para 17,1% em 2.023.

Somando-se o número de sobrepeso e obesidade, 56,8% da população brasileira tem seu IMC acima de 25 (40,3% entre 18 e 24 anos e 68,5% na faixa de 45 a 54 anos).

Alimentação inadequada, com aumento de consumo de ultraprocessados, sedentarismo, excesso do tempo de telas, sono irregular são fatores importantes, reforçados na época da pandemia pelas dificuldades impostas pela COVID, mas que, mesmo agora, representam causas marcantes desse processo.

Crianças e jovens com questões de peso serão os casos de adultos com o mesmo quadro e as comorbidades já conhecidas. Essa é uma situação que merece uma abordagem de saúde pública, com esforços de profissionais de saúde, educação, famílias e a sociedade.


E a amamentação com isso?

Não existe uma bala de prata para resolver essa situação (já falei isso aqui sobre o aleitamento materno). Não há nenhuma ação isolada que determine grande redução do problema e que se sustente isoladamente.

Mas um bom começo pode fazer grande diferença. E o que mostram estudos recentes? Nada que já não se soubesse, mas que fica cada vez mais comprovado.

Uma pesquisa apresentada na Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), em Hamburgo, Alemanha, realizada no Campus da Universidade do Colorado analisou dados de mais de 700 pares mãe-filho que participaram do estudo Healthy Start, relacionou a fórmula infantil e a introdução precoce de bebidas gaseificadas com níveis mais elevados de gordura corporal mais tarde na infância.

As mães foram entrevistadas aos 6 e aos 18 meses sobre essas práticas alimentares e as medidas de IMC foram feitas nas crianças aos 5 e aos 9 anos. Os resultados mostraram que crianças amamentadas durante seis meses ou mais apresentaram uma percentagem de gordura corporal inferior aos nove anos em comparação com aqueles que nunca foram amamentadas ou que receberam leite materno durante menos de 6 meses. As crianças que não consumiram bebidas açucaradas até depois dos 18 meses também apresentaram menor massa gorda aos nove anos.

Essa pesquisa concluiu que as práticas de alimentação infantil, especialmente a amamentação mais curta e a introdução precoce de refrigerantes podem influenciar os níveis de adiposidade mais tarde na infância.

Outro estudo relevante, publicado no Pediatrics, analisou 8.134 duplas mães-bebês, analisando IMC materno pré-gravidez, práticas de alimentação infantil e IMC de crianças entre 2 e 6 anos de idade.

Os resultados mostraram que 3 meses de aleitamento materno, exclusivo ou não, levaram a um menor IMC das crianças, em mães com peso saudável, com sobrepeso ou obesas. Assim, o leite humano, independentemente da categoria de IMC materno, foi associado a um menor IMC infantil, apoiando as recomendações de amamentação como uma estratégia potencial para diminuir o risco de obesidade na prole.

Vale ressaltar que esse é um dos fatores que podem favorecer e prevenir a evolução da obesidade, uma das DCNT mais frequentes no mundo, mas que requer a continuidade de outras ações preventivas.

Do ponto de vista alimentar, recomenda-se evitar os ultraprocessados, não ceder às tentações do marketing da indústria de alimentos, através de influenciadores nas redes sociais e investir em estilo de vida saudável (quanta novidade, né?), com controle do tempo de tela, atividade física regular (diga não ao sedentarismo), sono adequado e avaliações regulares com profissionais de saúde atualizados e sem conflitos de interesse.

Já começou a fazer seus planos para 2.024? #ficadica

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545