Do site da Crescer
O pediatra Moises Chencinski reflete sobre o papel do comunicador e da importância da escuta ativa para que a comunicação sobre a importância do aleitamento materno seja efetiva
por Dr. Moises Chencinski - colunista
06/01/2024
Eu já estava separando um material para um texto e para uma aula, pensando, logicamente em uma programação e uma proposta para mim nessa área, recebi outras fontes (vou citar todas), e então... uma coisa leva à outra. Adivinha. Meu primeiro texto para o site da Crescer de 2.024.
Para não fugir à regra... Dicionário para estabelecer alguns critérios. Segue o fluxo:
INFLUENCIAR: Ter ou exercer influência ou ascendência sobre alguém ou algo; sugestionar.
SUGESTIONAR: Convencer alguém a pensar ou a agir por sugestão; influenciar, manipular.
MANIPULAR: Influenciar ou controlar um ou mais indivíduos de maneira ilegítima e de acordo com os próprios interesses; Sugestionar.
INFORMAR: Transmitir ensinamentos; ensinar, instruir. Dar informações e notícias; ser informativo. Dar apoio a; apoiar, corroborar, secundar.
COMUNICAR: Transmitir conhecimento, informação, mensagem etc.; participar, significar. Entrar em contato com; trocar ideias; conversar.
Dá pra perceber que existe uma ligação, uma conexão entre os termos e que um se completa e se funde com o outro, mas ...
Esse texto, árido e instigante, da autoria do Bruno Astuto (Revista Ela / O Globo - 31/12/2023), enviado por um amigo, pediatra, ativista da amamentação, Dr. Marcus Renato de Carvalho, criador do site Aleitamento.com, uma das referências nacionais sobre o tema, me trouxe algumas reflexões.
“Influenciar não é o primeiro passo de um comunicador; é a consequência de um laudo trabalho de estudo, pesquisa de formas e conteúdo, coerência e, por favor, credibilidade.”
“Cabe aos outros dizer que determinada pessoa exerce ou não uma influência sobre suas escolhas, jamais ela própria”.
EU JÁ ENTENDI
Olha só, que post excelente no perfil @conversascorajosas, com o título:
“Você acha que eu não entendi, mas...
EU JÁ ENTENDI
Eu apenas não concordo”.
Ele aborda as conversas com adolescentes e nossa tentativa de “educá-los” ou de fazê-los agir como gostaríamos que eles agissem, achando que eles não entendem o que é o melhor (que nós achamos) para eles.
Esse trecho é...
“Ainda sinto que temos a concepção de que, quando a comunicação não acontece, é porque o outro não nos entendeu. Tenho que falar de novo! De outra forma! Me preparar melhor!”
E se segue com esse outro que é ainda mais...
“A comunicação não acontece apenas no um dizer e o outro compreender. Para se transformar em ação, esse outro tem que ir além do entender. Tem que concordar. Tem que ter significado para ele. Senão, por que raios ele faria aquilo que só faz sentido para você?”
E esse então...
“...quando entendemos que a questão não é apenas a compreensão pelo outro, mas o seu engajamento, podemos agir diferente. Senão seguiremos insistindo em falar e refalar forçando goela abaixo a compreensão do que já está compreendido.”
Assim, ou faz sentido para quem recebe a informação, ou vamos repeti-la até a exaustão e muito pouco (ou nada) vai mudar. Precisa desenhar?
A recomendação da OMS é o aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até o sexto mês. É informação, é importante, vale repetir pela audiência rotatória (as gerações de mães mudam), mas apenas (e já é muito importante) com a intenção de informar. Ou você acha que tem alguma mãe que já ouviu e ainda não “engoliu” essa “não-novidade”?
Só sei que não vou por aí
Outro texto é um “poema-manifesto”, forte, de José Régio, um escritor português, chamado Cântico Negro (declamado por Maria Bethânia), publicado em 1926 no seu primeiro livro (Poemas de Deus e do Diabo). Recomendo a leitura completa. Ele começa assim, com um convite acolhedor:
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
E ao final, ressaltando e reforçando a individualidade, nesses últimos versos, o autor expõe a contradição, a dificuldade de aceitar o fácil, o simples, o natural.
“Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”
Será que essa “minha vida” não pode ser relacionada à maternidade, à amamentação e, ainda em uma fase de indefinições e incertezas, não ter necessidade de respostas certas, e sim de mais empatia e escuta ativa?
“Para ouvir não basta ter ouvidos. É preciso parar de ter boca. Sábia, a expressão: “Sou todo ouvidos”. Todo ouvidos; deixei de ter boca”.
Rubem Alves (Se eu fosse você)
E agora, 2.024?
Dá um sinal aí. Pode falar. Tô escutando.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545