Do site da Crescer
Entenda o que pode ser feito nos casos em que interromper a amamentação se torna inevitável
Por Carla Leonardi
13/04/2024
O aleitamento materno é amplamente reconhecido pelas sociedades médicas como o melhor alimento que pode ser oferecido ao bebê, proporcionando uma série de benefícios para a saúde não apenas da criança, mas também da mulher. Entretanto, há situações em que a amamentação não é possível ou se torna contraindicada. É o caso, por exemplo, de algumas condições de saúde. “Mulheres infectadas com o vírus HIV (da Aids) ou HTLV (que afeta a imunidade das pessoas) não devem amamentar, pois existe o risco de esses vírus serem transmitidos para a criança pelo leite materno”, aponta o pediatra Moises Chencinski.
A mesma restrição vale para pacientes em tratamento oncológico, pois as terapias podem levar à contaminação do leite. Há também alguns medicamentos que, se usados pela mulher, inviabilizam o aleitamento, assim como o uso de drogas ilícitas. “De qualquer forma, cada situação precisa ser avaliada pelo pediatra, em consulta, para que seja feita a melhor orientação, visando à saúde da dupla mãe-bebê”, alerta Chencinski.
Por outro lado, o médico lembra um assunto pouco abordado, mas que precisa ser falado: o óbito da criança durante o período de amamentação. “Nesse caso, há necessidade de acompanhamento da questão clínica, emocional e afetiva, com toda a atenção ao processo de luto que envolve essa situação”, salienta.
Interromper o estímulo das mamas
Se a sucção e/ou o bombeamento para extração do leite são fundamentais para o processo de lactação, é justamente pela suspensão desses estímulos que o alimento materno passará a ser produzido em menor quantidade até secar.
O ideal, certamente, é que essa seja uma transição programada e que ela respeite o tempo de cada mãe e de cada bebê. “A primeira e mais desejável forma de desmame é a chamada oportuna, gentil ou respeitosa, em que o lema pode ser: ‘Não oferecer. Não negar’”, orienta o pediatra. Para isso, além de levar em conta a idade do pequeno (preferencialmente, por volta dos dois anos de vida), vale observar seu comportamento: se ele aceita outros alimentos, se tem menor interesse nas mamadas, encontra novas formas de conforto, entre outros.
Assim, com o espaçamento e a redução gradual das mamadas, a produção de leite vai diminuindo progressivamente. No entanto, nem sempre existe a possibilidade de esperar esse tempo - um diagnóstico inesperado e o início de um tratamento de saúde, ou mesmo o óbito do bebê, acabam levando a uma interrupção abrupta.
Uso de medicação e enfaixamento das mamas
Em alguns casos, pode ser necessário utilizar apoio medicamentoso para a supressão da lactação, mas ele deve ser prescrito pelo médico e, sua administração, acompanhada para observar possíveis efeitos indesejados.
Outra técnica utilizada é o enfaixamento das mamas. O procedimento consiste em comprimir os seios com atadura, de modo que não cause desconforto ou restrição aos movimentos respiratórios, mas evite a sua manipulação e estimulação. Segundo Chencinski, isso requer conhecimento, informação, prática e ciência. “Portanto, é importante procurar profissionais habilitados e capacitados a realizarem o procedimento, como enfermeiras e consultoras de amamentação”, aconselha.
Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra pela UNIFESP e Consultora Internacional de Lactação, acrescenta ainda a possibilidade de usar tops ou sutiãs apertados e recomenda a aplicação de compressas geladas, “também eficazes para evitar ou tratar desconfortos decorrentes de uma possível inflamação local”.
Extrair ou não o leite?
Moises Chencinski pondera que o simples fato de não haver mais estimulação das mamas pode não interromper a lactação, o que gera um dilema: se a mãe extrair o leite, o cérebro pode identificar como um estímulo e manter a produção. Por outro lado, se não extrair, o leite pode se acumular, levando à obstrução de ductos, ao ingurgitamento mamário e até a uma mastite. “Essa é mais uma das razões pelas quais o desmame merece ser acompanhado por profissionais que conheçam a dinâmica. Qualquer sinal de desconforto deve ser comunicado ao médico o quanto antes”, alerta.
Sobre esse assunto, Cinthia lembra que as orientações devem ser individualizadas. “A decisão entre não estimular para que a produção cesse espontaneamente e a necessidade de fazer uma drenagem de alívio para trazer conforto é delicada e difícil. Há que se avaliar cada caso, momento a momento”, afirma.
A técnica chamada de “ordenha de alívio”, segundo a consultora de lactação, tem o objetivo de drenar o mínimo possível do leite parado nas mamas e deve ser realizada preferencialmente com as mãos apenas para diminuir o desconforto. “Essa intervenção é diferente de ordenhar a mama com intuito de esvaziar, estimulando a produção de leite”, explica.
Compressa de repolho congelado funciona?
Buscas na internet ou mesmo conversas com amigas podem levar a “técnicas” caseiras, como o uso de repolho congelado nos seios, entretanto, o pediatra lembra que experiência pessoal não é evidência científica. “O Protocolo 36 sobre mastites da Academy of Breastfeeding Medicine (ABM) traz a seguinte informação: ‘Os estudos não demonstraram que folhas de repolho são mais eficazes do que o gelo, sugerindo que o benefício terapêutico é relacionado à vasoconstrição pelo frio, em vez de um propriedade do próprio repolho’. Assim, nem para mastites, nem para ‘sugar’ o leite a folha de repolho tem ação comprovada cientificamente”, alerta Chencinski.
Vale lembrar, por fim, que o repolho pode carregar a bactéria Listeria, o que torna seu uso contraindicado.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545