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Pegar no sono durante a mamada não é incomum, mas levanta preocupações sobre como agir nessa situação. Entenda!
Por Carla Leonardi
04/05/2024
Você coloca o bebê para mamar e, depois de um tempinho, ele pega no sono. Essa cena não é nada atípica, afinal, quando o pequeno se sente acalentado pelo colo materno, é natural que ele relaxe e acabe dormindo, sobretudo nos primeiros dias de vida. Mas quando a prática se torna frequente, ela levanta questionamentos e traz a principal preocupação das mães: será que pode afetar a nutrição da criança?
“É muito importante que um bebê tenha seu acompanhamento periódico com um pediatra, com avaliações regulares nas quais se analisa crescimento e desenvolvimento, alterações clínicas, emocionais e sociais, além de dar orientações sobre alimentação, vacinação, atividades e outras”, explica o pediatra Moises Chencinski.
Ele lembra ainda que as visitas ao consultório devem começar durante a gestação, a partir da 32ª semana, e seguir regularmente depois do parto com consultas mensais ou bimestrais no primeiro ano de vida - o que possibilita a avaliação de como a amamentação está indo. “Se o bebê dormir com frequência no seio e, durante as consultas, o pediatra analisar que isso interfere em alguma questão, ele pode orientar ações para ajustar essa dinâmica, em benefício da dupla mãe-bebê”, diz o médico.
Ajustes para manter o bebê acordado durante a mamada
Como explica Chencinski, são muitas as orientações a respeito da amamentação que podem favorecer o ajuste do processo. “Uma das mais importantes, e que se modificou com o tempo, é a livre-demanda. A recomendação de mamar de 10 a 30 minutos de cada lado, em intervalos regulares de 3 horas, não respeitava a individualidade e as necessidades nutricionais do lactente”, afirma. Já com a livre-demanda, é o bebê que determina o intervalo entre as mamadas, a sua duração e se vai mamar em um ou nos dois seios. “Quando isso é imposto a ele, pode não ser o momento da fome ou da sede e a mamada não fica adequada”, acrescenta o pediatra.
Mais uma questão fundamental é a pega correta, para que a mamada se estabeleça de forma confortável e mais definitiva. “Muitas vezes, se existe alguma disfunção nessa pega, o bebê suga, mas não consegue extrair o leite adequadamente. Pelo esforço muitas vezes excessivo, se cansa e adormece durante a mamada, ainda que não esteja saciado”, esclarece Chencinski. Isso pode fazer com que o pequeno acorde em intervalos menores, exigindo mais da mãe.
Outra dica importante é o contato pele a pele, prática que, segundo o médico, pode manter o bebê mais alerta durante a amamentação, além de trazer outros benefícios, como a proteção da temperatura do pequeno, o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho e a transferência da microbiota da pele da mulher.
A enfermeira obstetra e Consultora Internacional de Lactação Cinthia Calsinki reforça essa orientação e a considera a mais efetiva. “Tire toda a sua roupa do tronco para cima e deixe o bebê de fralda. Se estiver frio, pode cobrir as costinhas, mas é necessário que ele sinta toda a extensão da pele junto à da mãe. Isso ativa os instintos dele, sendo o reflexo de sucção o mais importante”, recomenda.
Cinthia Calsinki lista ainda outras práticas que podem ajudar a manter o bebê acordado durante a mamada:
- Fazer movimentos circulares na bochecha do bebê quando ele parar de sugar, mas tendo certeza de que ele realmente parou e não está somente descansando.
- Tirar o excesso de roupa, pois uma dose de frio na medida certa pode fazer o bebê buscar conforto no seio.
- Trocar a fralda antes da mamada pode ajudar a acordar, mas trocar após a mamada de um dos lados pode ser ainda mais efetivo para fazer o bebê mamar mais e melhor no outro seio.
- Ter atenção ao momento de mudar de lado, pois às vezes o bebê parece dormir, mas é apenas porque está na hora de trocar de seio. É possível perceber o momento quando ele já não faz deglutições ritmadas.
- Para acordar o bebê, é possível segurá-lo com a barriguinha para cima e fazer movimentos de lateralização do corpo para ambos os lados lentamente. Isso mexe com o labirinto e ajuda o pequeno a acordar.
- Pegar nos pezinhos, ligar uma música e amamentar em um ambiente claro também podem ser boas estratégias.
A enfermeira obstetra lembra que manter o bebê acordado é um dos maiores desafios dos dias iniciais do recém-nascido, pois “ele sente que ainda está no útero, recebendo tudo que precisa através do cordão umbilical. Ele demora um pouco a perceber que saiu, e aí, quando a gente coloca o bebê no colo, os barulhos que ele ouve, junto com a sensação de acolhimento, fazem com que ele se sinta lá novamente”, ilustra.
É por isso que vale ter cautela ao tentar acordar a criança, sempre avaliando se é necessário, como reforça Moises Chencinski. “Na maior parte das vezes, a mãe sabe reconhecer o ritmo de mamada de seu bebê e a decisão sobre acordá-lo ou deixá-lo dormir deve ser analisada caso a caso, com cuidado, carinho e atenção”, finaliza.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545