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Proteger a amamentação e dizer NÃO ao bombardeio digital

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski alerta para o perigo de confiar nas publicidades de influenciadores digitais: "A meta é a proteção do aleitamento materno através da informações, atualizada, justa, sem conflitos de interesse"

por Dr. Moises Chencinski - colunista

20/05/2024

Esse é o tema do Dia Mundial de Proteção ao Aleitamento Materno (21 de maio), que acontece desde 2.021, no aniversário de 40 anos do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno. A data foi escolhida e indicada pela IBFAN (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar) como um marco para mobilizar governos, sociedade civil e profissionais de saúde na luta contra práticas abusivas da indústria de fórmulas e demais alimentos infantis, para proteger a amamentação.

Mas já não tem o dia 19 de maio de doação do leite, o agosto dourado, o novembro roxo da prematuridade (que, por exemplo, já tem leis municipais – São Paulo, por exemplo – e Projeto Estadual e Federal quase aprovados) pra falar do leite materno? Precisa mais datas ainda?

Todos conhecem (ou deveriam conhecer) as recomendações da Organização Mundial de Saúde (acho que não passo dois textos sem falar sobre isso):
“Aleitamento materno desde a sala de parto continuado até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês”.

Segundo as últimas pesquisas (ENANI-2019 - cito muito também, aguardando o ENANI-2024/2025?), cerca de 46% dos bebês são amamentados exclusivamente até o 6º mês, só 63% deles mamam no seio materno na primeira hora de vida (e isso é lei e deveria ser mais próximo de 100%), e a mediana de aleitamento materno exclusivo, no Brasil é (só??) de 3 meses.

Mas não existe lei? Sim. Muitas. Uma delas, a NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, Crianças de Primeira Infância, Bicos, chupetas e mamadeiras), está aí desde 2006 para regular o marketing desses produtos pelas indústrias e até pelos profissionais de saúde materno-infantil.

E todos conhecem? Hummmm.
- As indústrias conhecem e buscam formas de “transgredir dentro da lei”.
- Os profissionais de saúde conhecem bem menos do que deveriam, assim como o Código de Ética Médica e o Manual de Publicidade Médica. 

Mas eu me pergunto:
- Será que as mães e as famílias e a população de forma geral conhecem?

E eu mesmo me respondo:
- Acho que bem poucas ou, pelo menos, bem menos do que seria desejado.

Aí você chega nas redes sociais e aparecem informações do tipo:

- Você tem pouco leite e ele é fraco - dá fórmula que hoje em dia é igual e tão boa quanto o leite materno;
- Cirurgia de freio de língua em recém-nascidos é simples e comum. Não tem problema e é melhor fazer já na maternidade.
- Teu bebê chora demais. Não é fome. Dá chupeta que ele acalma e não atrapalha.
- Usar relactador para favorecer a amamentação é normal.
- Teu bebê fica grudado no teu peito. Assim ninguém aguenta. Tira o teu leite, coloca na mamadeira e pede pra alguém dar. Assim você descansa e não fica com essas olheiras. Parece doente? 

E isso é divulgado nas redes por profissionais de saúde (que pena), pela indústria (isso é rotina), através dos influenciadores (#publi – publicidade paga), que não são da área de saúde, e que tiveram ou não uma experiência pessoal sobre o assunto, mas que têm milhões de seguidores. E são muitos os influencers que aproveitando da boa-fé de sua legião de seguidores entram no ramo de vendas de seus produtos ou de empresas maiores que eles representam. E eles ganham. E a maioria de nós, pobres nós, perde. 

Uma frase para ficar na cabeça de todos, sempre:
EXPERIÊNCIA PESSOAL NÃO É EVIDÊNCIA CIENTÍFICA.

Pode ser um fato que aconteceu com aquela pessoa ou com algumas delas. Mas, para isso ser aceito e generalizado como verdade e ser orientado como um protocolo científico é preciso ter estudos, pesquisas, publicações. E deixa eu contar “um negocin procês”: A IMENSA MAIORIA NÃO TEM.

Em uma de suas crônicas recentes, Miguel Paiva (cartunista, autor de charges, quadrinhos, crônicas e vídeos – o da Radical Chic, do Gatão de meia-idade, O Pasquim) pontuou:

“Um bom influencer não deixa ensinamentos. Deixa likes e compartilhamentos.”

Ainda não existe, oficialmente, uma legislação que controle os influenciadores digitais, que têm milhões de seguidores e são parceiros, orientados e até pagos pelas indústrias para convencer as mães dessas inverdades. Mas a lei está chegando e a OMS, o Ministério da Saúde e a rede IBFAN estão lutando para que ela seja aprovada o quanto antes.

A meta é a PROTEÇÃO do aleitamento materno através da INFORMAÇÃO ÉTICA, ATUALIZADA, JUSTA, SEM CONFLITOS DE INTERESSES.

Do site da IBFAN:
Defender a amamentação deve ser uma responsabilidade compartilhada entre os governos, profissionais de saúde, as empresas, membros da sociedade civil que devem se envolver ativamente na promoção e proteção deste direito básico. As famílias também têm um papel essencial no apoio à prática do aleitamento materno”.

E conclui (ainda IBFAN):
Neste Dia Mundial de Proteção à Amamentação, unimos nossas vozes para dizer NÃO ao bombardeio digital pela indústria de fórmulas e alimentos infantis. Juntos, podemos construir um mundo onde todas as crianças tenham acesso à amamentação e se beneficiem dela para um futuro mais saudável e sustentável para todos”.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545