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Semana Mundial de Aleitamento Materno e Agosto Dourado de 2024: Novidades?

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski reflete sobre esse período de incentivo à amamentação e debate sobre a necessidade do protagonismo das mães nesse processo

por Dr. Moises Chencinski - colunista

01/08/2024

- Dia 1º de agosto – Dia Mundial da Amamentação.
- É o primeiro dia da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM-2024).
- É a primeira semana do mês de agosto que, desde 2.017 no Brasil, é dedicado a informar, proteger, apoiar e promover o padrão ouro da alimentação infantil: o leite materno – AGOSTO DOURADO.

Esse é um mês em que o aleitamento materno é divulgado em todas as mídias e redes sociais, enaltecido em todas as reuniões de saúde, lembrado nas questões de políticas públicas, reforçado através de ações de monitoramento do marketing das indústrias de fórmulas lácteas comerciais, bicos, chupetas e mamadeiras, estimulado por ações pelo mundo tudo (muito no Brasil), ressentido pelas mães que não conseguiram, não puderam ou não quiseram amamentar... e poderia me alongar e o espaço não seria suficiente para contar toda a saga desse mês.

O tema da SMAM no mundo (“Closing the gap – Breastfeeding Support for All” – tradução livre e literal como “Fechando a Lacuna – Apoio para a Amamentação de Todos”) foi traduzido pelo Brasil como: “Amamentação – Apoie em Todas as Situações”. Acho que dessa vez, a união desses dois temas poderia refletir melhor a proposta para esse ano. Ficaria algo como:

 “Cuidar das desigualdades para apoiar a amamentação de todos em todas as situações”.

Faço as traduções para o português do Action Folder (Propostas de Ações) da WABA (World Alliance for Breastfeeding Action - Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) desde o ano 2.020, sempre com supervisão de Marina Rea, parte da história  e batalhadora pela amamentação (esse ano o design do Action Folder em Português foi de Ana Basaglia, uma das criadoras do grupo Matrice e responsável pela Editora Timo).

São tantas as áreas, tantos os desafios, tantas as propostas que, ao final dessa leitura, a sensação é que temos muito a fazer (mas muito mesmo) e fica difícil e complexo determinar uma linha geral de ação, e se esse fio tem um “lado mais apropriado” para começar a tentar desatar os nós.

Essa proposta leva em conta questões mundiais e aborda os desafios e propostas para ações globais em prol da amamentação. Os temas abordados ano a ano trazem realidades que influenciam cada maternidade e cada aleitamento em cada canto do mundo. O Brasil traz as suas questões e seus desafios que merecem uma visão aprofundada e individualizada para superar as lacunas que existem aqui em muitas áreas da amamentação.

Em seu livro “EVA – Como o corpo feminino conduziu 200 milhões de anos de evolução humana”, Cat Bohannon (a autora), no capítulo referente à amamentação, aborda questões como o “leite social” e o “leite pessoal”, trazendo algumas reflexões interessantes para esse processo.

Não há como negar. Apesar de a amamentação ser um ato democrático, os dados estatísticos nacionais e mundiais nos mostram o quanto ainda estamos distantes (aqui e no mundo) de atingir as propostas da Organização Mundial da Saúde (OMS), com desigualdades nos campos institucionais, de políticas públicas, do trabalho, das instituições de saúde, da influência do marketing, das emergências da pobreza, e das muitas vulnerabilidades que reduzem as possibilidades das mulheres em seu desejo de oferecer seu leite para suas crias desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o sexto mês.

E no centro de tudo, o foco principal, a mulher, a mãe, a nutriz, a lactente. E aí, sempre volta a sensação e a pergunta que até agora, pelo menos para mim, continua sem uma resposta clara:

O que essas mães querem e precisam?

Não consigo ver, em todas as propostas de ações mundiais e nacionais, qualquer sinal de que as mães tenham sido consultadas. Vejo, em muitas das propostas, a intenção de “solucionar” os desafios e superar as lacunas, mas não enxergo a participação das maiores interessadas. Somos todos nós dizendo a todas elas o que cada uma delas precisa, tem que fazer, para conseguir amamentar da “forma e pelo tempo adequado”, sem conhecer, de verdade, o que cada uma delas e o que todas elas sentem e vivenciam.

Chances de alcançar os objetivos? Pode dar certo? Será que algum dia vamos ficar satisfeitos? Já não estamos em uma situação mais favorável?

Gosto muito (para variar) de uma frase atribuída ao interminável Ariano Suassuna:

“Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo.”

E isso pode ser associado a um outro pensamento atribuído a Mario Quintana, em seu livro Espelho Mágico (1.951):

DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”

Segundo estimativas do Population Reference Bureau (PRB), já nasceram, desde o surgimento do Homo sapiens (faz muto, muito tempo – supostamente há 200 mil anos), 108 bilhões de pessoas. A população mundial hoje é de mais de 8,125 bilhões de pessoas. Até o aparecimento das indústrias e de outras formas de alimentação e nutrição de recém-nascidos, a sobrevivência só foi possível pela amamentação, que, apesar de todas as lacunas e de todos os desafios, ainda persiste até os dias de hoje.

Vale sempre ressaltar que quem não amamenta porque não consegue, não pode ou não quer não é “menos mãe” e não deve ser julgada. Mas a informação é fundamental. E essa é a nossa meta e nossa missão.

E nessa SMAM e AGOSTO DOURADO, quero fechar esse texto com um pensamento atribuído a ... pode ser a mim mesmo, porque eu digo isso muito ou, na prática, não faz diferença quem disse.

Vamos inundar esse país e esse mundo de leite materno. Viva o Tetê.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545