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Para que serve o choro? O choro “desmachuca”...

Do site da Crescer

A frase não é minha, mas ouvi nesse domingo e está na minha cabeça até agora

por Dr. Moises Chencinski - colunista

28/10/2024

A frase não é minha, mas ouvi nesse domingo e está na minha cabeça até agora.

Forte, né?
E vale para qualquer idade e para qualquer situação?
Talvez não todas, talvez não para todos...

Mas não dá pra negar que esse pensamento dá um quentinho na alma e até um grande alívio.

Afinal, quem tem uma fórmula mágica, que funcione sempre, para cada vez que você viu alguém chorando?

Impotência talvez resuma a emoção. Desconforto, incômodo, desânimo, aflição... tudo junto e misturado.

E quando é você quem chora, parecendo que vai desidratar, que não vai acabar nunca, e não sabe o que fazer para colocar um fim nesse rio de lágrimas?

Quem chora de dor, de tristeza, sofrimento, desesperança, melancolia, angústia, por padecimento, uma fatalidade, um desastre, mágoa, mortificação, luto ... não sabe como fazer esses sentimentos pararem imediatamente e nem como “engolir” esse choro.


A ciência 

Esse artigo (Choro: um complexo fenômeno humano), publicado na Revista Brasileira de Psicoterapia (2.014), traz algumas citações que achei bem pertinentes e relevantes para esse texto.

O choro é uma autêntica explosão de emoções que permeia nossa vida do nascimento à morte. É desencadeado por diversos estados emocionais, desde tristeza até felicidade”.

É um reflexo psicogênico resultante da interação entre as áreas do sistema límbico do cérebro que regulam a experiência consciente das emoções internas e das respostas fisiológicas. Acredita-se que o choro possibilita o retorno da homeostase do organismo através da liberação de neurotransmissores e hormônios. Entre suas funções estão a comunicação das emoções e a liberação do sofrimento psíquico. Sua regulação depende das percepções sobre os efeitos do choro em si mesmo e nas pessoas ao redor”.

E a conclusão:
Considerado um importante comportamento de apego presente ao longo da vida, o choro é uma habilidade natural, que com o desenvolvimento vai sendo suprimida, gerando controvérsias em relação à sua importância para regular o equilíbrio emocional e físico”.


Não, não chore mais

Poético (obrigado Gil, pela obra toda), mas “cientificamente” possível? Necessário? Indicado?

Pausa para uma pergunta (sem uma resposta necessária):
- O choro incomoda mais quem chora ou quem vê alguém chorando?

E parece que sempre que estamos diante de alguém chorando, temos que fazer alguma coisa para que esse choro acabe. Muitas vezes não sabemos como. Em outras, agimos e não funciona. Frustrante?

E se esse choro vem de uma criança e é caracterizado como “birra”? Aí, além de todos esses sentimentos, seguem-se alguns estágios como surpresa, incompreensão, raiva e aparecem reações, entre as quais, os famosos:

- Tá chorando por quê?
- Engole esse choro.
- Para de chorar à toa, senão vou te dar um bom motivo pra chorar...

Mas, independentemente de quem, nos outros ou na gente mesmo, por qual razão, como, quando, onde acontece um choro, seja por uma justificativa baseada na ciência ou sem qualquer razão aparente, ele é necessário. A possibilidade do choro é vital.

Se não souber como agir, não aja.
Se não souber o que dizer, não diga.

Apenas olhe.
Apenas reconheça.
Apenas espere.
Apenas esteja.
Apenas seja presença.
Esses “apenas” podem ser tudo.

Apenas deixe o choro se esgotar.
Afinal, ele tem uma “missão”.
Ele “desmachuca”.


Créditos

A parte mais importante. De quem é essa frase que abre o texto?

Ela foi dita pelo meu sobrinho-neto que completou 4 anos nesse final semana.
Tenho testemunhas.

Eu não conseguiria, com toda certeza, ter um pensamento tão profundo e tão claro. Obrigado, Milo (se pronuncia Mailou).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545