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Leite materno: Precisamos evoluir no nosso “marketing”?

Do site da Crescer

"A indústria de produtos lácteos comerciais investe pesado durante o ano todo e intensifica sua publicidade exatamente durante o agosto dourado. Se nós, profissionais de saúde maternoinfantil, nos posicionarmos de forma mais incisiva, mais constante, não será necessário focarmos todos os nossos argumentos em um mês só", diz Moises Chencinski

por Dr. Moises Chencinski - colunista

04/11/2024

Em 1º de outubro eu volto com as mesmas estatísticas de pesquisa de setembro. Será que dá para imaginar o que vai acontecer com os dados? Curiosos?

Esse foi o último parágrafo da matéria que escrevi aqui na Crescer no dia 2 de setembro, abordando as diferenças de quantidades de informações que existem durante um ano a respeito do aleitamento materno.

Foram só promessas de campanha? Eu menti? Eu me enganei? Eu me esqueci? Não, nada disso. Foi opção esperar mais um mês para analisar as estatísticas e comprovar o que sempre foi assim.

Seguem os dados que eu coletei (aliás ampliei), mês a mês, entre 1º de junho e 31 de outubro.

1º a 30 de junho (0)
1º a 31 de julho (A)
1º a 31 de agosto (B – o marco – agosto dourado – para referência)
1º a 30 de setembro (C)
1º a 31 de outubro (D)

AGOSTO DOURADO
0 - 48.100
A - 347.000
B - 1.930.000
C - 211.000
D - 86.500

AMAMENTAÇÃO
0 - 713.000
A - 3.540.000
B - 3.950.000
C - 3.040.000
D - 2.390.000

ALEITAMENTO MATERNO
0 - 31.900
A - 152.000
B - 189.000
C - 76.200
D - 70.500

LEITE MATERNO
0 - 60.700
A - 193.000
B - 516.000
C – 103.000
D - 157.000

Aqui eu acrescentei mais duas pesquisas.

FÓRMULA INFANTIL
0 – 163.000
A – 846.000
B – 1.040.000
C – 246.000
D – 285.000

BREASTFEEDING
0 - 4.910.000
A - 9.090.000
B - 9.310.000
C - 4.160.000
D - 9.230.000


Análise dos dados

O que esses números mostram e sugerem?

1-   Em junho, tudo o que está relacionado ao aleitamento, à amamentação, leite materno, está em seus níveis mais baixos.
2-   A partir daí, os resultados crescem de julho até agosto (o dourado), quando atingem seu pico, e voltam a cair em setembro e outubro.
3-   Amamentação é um termo muito mais encontrado do que aleitamento materno.
4-   Em todos os meses analisados, as informações pesquisadas sobre leite materno estão bem abaixo das de fórmula infantil.
5-   Quando o termo é em inglês (Breastfeeding – pesquisa mundial), em junho e setembro os números caem muito, mas julho, agosto e outubro estão em um patamar alto e praticamente constante (com um pico não relevante em agosto).

Muitos outros pontos podem ser avaliados só com esses dados. Por exemplo, fiquei curioso com os números sobre as fórmulas infantis (FI) serem tão acima (o dobro) dos de leite materno (LM), especialmente em agosto dourado, mês dedicado à sensibilização e informação a respeito da amamentação. “Xeretei”!!!

Comparei as primeiras 4 páginas que aparecem no Google sobre LM e FI e anotei a origem e a autoria das matérias.

Nas primeiras 4 páginas de agosto (dourado) sobre o LM, não há publicidade. Existem informações oficiais (governos federal, estadual e municipal), ações a respeito do agosto dourado divulgadas por instituições, hospitais, serviços de saúde, muito material científico, estudos e informações sobre o “produto” e o ato de amamentar.

Já nas mesmas primeiras 4 páginas (e aqui explico a razão desse número) a imensa e absoluta maioria (quase totalidade) é material produzido pelas indústrias (publicidade) de fórmulas lácteas comerciais. E cada um deles vendendo o seu “produto”.

Somente na página 4 (aí a explicação) apareceram 2 matérias que não eram publicidade. E tomei um susto, uma surpresa boa. As duas matérias eram minhas.

A primeira um texto que foi publicado no BLOG da Editora Timo (Substituto de leite materno só tem um - e não é a fórmula) e o segundo do Facebook da TV Cultura, programa Opinião, com a jornalista Rita Lisauskas (obrigado pelo convite) em que eu participei, juntamente com Ana Basaglia (Editora Timo), abordando a importância do leite materno.


Conclusão

A recomendação é que os bebês mamem e as mães amamentem desde a sala de parto até dois anos ou mais, de forma exclusiva e em livre-demanda até o sexto mês.

É necessário falar e divulgar e publicar e informar sobre amamentação, aleitamento materno, leite materno com o mesmo empenho e a mesma força durante o ano todo. Daí uma das minhas propostas sobre a promoção do ANO DOURADO DO ALEITAMENTO MATERNO, já citadaaqui, na Crescer, pelo menos desde 2.021.

A indústria de produtos lácteos comerciais investe pesado durante o ano todo e intensifica sua publicidade exatamente durante o agosto dourado. Se nós, profissionais de saúde maternoinfantil, nos posicionarmos de forma mais incisiva, mais constante, não será necessário focarmos todos os nossos argumentos em um mês só e a proposta de proteger, apoiar e promover o aleitamento materno será mais naturalizada e mais normalizada.

E quando agosto chegar, essa informação, que já seria muito mais significativa de setembro a julho, poderia sim ser reforçada, mas já partindo de níveis muito acima do que os atuais.

Quem não é visto, não é lembrado. Essa é uma frase atribuída a Patrick Munzfeld, para a área de publicidade, mas que também dizem ter sido usada, pela primeira vez, por René Descartes, filósofo, físico e matemático francês (“Penso, logo existo”, lembra?).

E para concluir volto ao texto que escrevi aqui na coluna em 2.021:
E por que não caminhar de um dia dedicado à sensibilização em relação ao aleitamento materno, que virou a Semana Mundial, que no Brasil chegou ao Agosto Dourado para um Ano Dourado do Aleitamento Materno já em 2022? Mães e bebês já estão fazendo sua parte há muito tempo”.

Podemos atualizar para 2.025, né?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545