Do site da Crescer
O pediatra Moises Chencinski reúne estudos recentes que abordam a preocupação mundial a respeito da influência da obesidade na saúde infantil. Confira!
por Dr. Moises Chencinski - colunista
11/11/2024
O sobrepeso e a obesidade infantil estão entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) mais prevalentes no mundo. E no Brasil, isso não é diferente. E elas estão na base das principais causas de adoecimento e morte relatadas no mundo atual.
O relatório "Principais causas de morte e carga de morbidade nas Américas: doenças não transmissíveis e causas externas", publicado em 2.024, avalia a carga de morbidade e mortalidade nas Américas de 2000 a 2019, com foco nas DCNT, como doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e diabetes (além de causas externas como acidentes).
Essa análise indica um aumento no número total de mortes de 31% entre 2000 e 2019 nas Américas, um aumento percentual maior do que em qualquer outra região da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre as diversas publicações sobre o tema, trago três estudos cientificamente embasados, que abordam a preocupação mundial a respeito da influência da obesidade na saúde infantil.
Como?
A primeira delas (“Programa de mensagens de texto ajuda pais a manter bebês com peso saudável”) traz uma reflexão a respeito de estratégias de prevenção dos quadros que podem estar acessíveis sem um grande custo.
Os autores relatam que, entre 2017 e 2018, 1 em cada 5 crianças em idade escolar eram obesas. Outra análise mostrou que as consultas presenciais com aconselhamento melhoraram o perfil de peso até os 18 meses, mas não daí até 2 anos, possivelmente pela maior frequência de atendimentos até 1 ano de idade.
Um estudo publicado no JAMA (Journal of the American Medical Association), com 900 pares de pais e filhos, a partir de 21 dias de vida, nascidos a termo, entre 2019 e 2022, que tinham peso saudável e não apresentavam problemas crônicos de saúde que pudessem promover ganho de peso.
Nesse grupo, todos foram acompanhados na clínica em consulta presencial e metade recebia informações por textos sobre comportamentos saudáveis, como menos bebidas açucaradas ou menos tempo de tela.
Aos 2 anos de idade, apenas 7% das crianças do grupo que recebeu mensagens de texto eram obesas, em comparação com quase 13% do grupo que recebeu apenas a clínica — uma redução relativa de 45%, com um efeito maior em crianças com maior risco de obesidade — aquelas em lares com insegurança alimentar, crianças negras e hispânicas e crianças cujos pais têm menos conhecimento sobre saúde.
Quem?
Publicada em 2018, uma pesquisa com dados entre 2009 e 2014 indicava que 16% das crianças iniciaram sua alimentação complementar abaixo de 4 meses.
Mais recentemente, esse 2º estudo analisa a introdução alimentar precoce (antes dos 4 meses) de 1 em cada 10 bebês (10%). A prevalência foi maior em crianças negras e em famílias de baixa renda, baixa escolaridade e com fumantes.
Os dados foram coletados da Pesquisa Nacional de Saúde Infantil dos EUA, que reúne informações sobre a saúde das crianças de seus pais e cuidadores, de 2016 a 2022, o estudo incluiu 18.184 bebês (51,4% meninos) de 4 a 12 meses.
Segundo o estudo, a introdução alimentar precoce impede os primeiros 6 meses de amamentação exclusiva e pode aumentar o risco de obesidade infantil.
Quando?
E o 3º estudo aproveita dados históricos e traz uma comparação sobre os efeitos do consumo de açúcar na Inglaterra, na época da Segunda Guerra Mundial, quando ocorreu, durante os bombardeios, um racionamento alimentar, que começou em 1940, mas que prosseguiu mesmo depois de a paz ter sido declarada, no final em 1945 (as restrições de consumo de açúcar terminaram em 1953).
Foi analisada a influência à exposição ao açúcar nos primeiros mil dias (gestação e os dois primeiros anos de vida) em cerca de 60.000 crianças nascidas desde o início do racionamento com as que nasceram após seu final, nos riscos de diabetes e hipertensão até a vida adulta.
Durante o racionamento, gestantes e crianças tinham menos alimentos doces para comer, mas quase imediatamente após o fim das restrições, o consumo de açúcar quase dobrou (de 41 gramas para 80 gramas por dia).
Os resultados demonstraram que o grupo de crianças que consumiu menos açúcar no útero ou na infância (durante o racionamento) teve um risco 35% menor de diabetes tipo 2 e um risco 20% menor de hipertensão do que o outro grupo além de terem atrasado o início dos quadros em 4 e 2 anos (respectivamente), quando eles apareciam.
Outros dois efeitos foram notados no peso (obesidade foi 30% menor no grupo com racionamento de açúcar) e nos hábitos do doce (crianças nascidas após o fim do racionamento continuaram a comer mais açúcar até os 60 anos de idade, acima do outro grupo).
Os autores ressaltam um aumento da produção e distribuição de muito mais alimentos ultraprocessados do que naquela época e que seu consumo, desde a gestação até após o parto e infância, através de mecanismos novos em estudo (epigenética, saúde intestinal e microbioma) requerem mais estudos pois podem ser indicativos de outros hábitos alimentares que não só o do açúcar.
Assim, a alimentação equilibrada desde a gestação, associada às recomendações da OMS de aleitamento materno desde a sala de parto até os dois anos ou mais (olha os mil dias aí), exclusivo e em livre demanda até o sexto mês, com introdução alimentar saudável a partir daí, são fatores primordiais para a saúde e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta.
Sigam as recomendações dos pediatras que orientam o ZERO AÇÚCAR até os dois anos de idade. Esses são só alguns estudos mais recentes que justificam essa conduta (tem muito mais). Não é por maldade, viu? É pela saúde das crianças.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545