Do site da Crescer
O pediatra Moises Chencinski, colunista da CRESCER, explica como as vacinas agem no organismo e esclarece quais são recomendadas durante a gestação e quais devem ser evitadas nesse período
por Moises Chencinski - colunista
11/03/2025
Sabe como funcionam as vacinas?
De uma forma bem simples (mas bem simples mesmo), se pega uma parte de um agente causador de uma infecção (vírus, bactéria, toxina) e, através de técnicas conhecidas, consagradas, comprovadas cientificamente se retira totalmente o poder de causar infecção (atenuado, enfraquecido, morto, inativado). Mesmo assim, essas partículas são reconhecidas pelo nosso corpo como algo que “não nos pertence” e provocam a produção de anticorpos para nossa defesa.
Assim, quando em uma próxima oportunidade, algum desses agentes tentar invadir nosso organismo e provocar uma doença, o sistema imunológico (por ter boa memória do primeiro contato através da vacina – memória imunológica) produz uma quantidade muito maior de anticorpos (mas muito, muito maior mesmo), em um espaço muito menor de tempo (mas muito, muito menor mesmo), impedindo ou diminuindo de forma muito significativa (mas, muito... você já entendeu, né) a possibilidade de a doença se instalar.
Algumas vacinas precisam de apenas uma dose para proporcionar essa imunização completa. Outras requerem mais de uma dose e, às vezes, mais tarde, até uma repetição (reforço) em determinados períodos para que essa proteção seja definitiva.
Em algumas pessoas, dependendo de suas características pessoais, as vacinas podem trazer algumas reações desagradáveis, indesejadas, como febre, mal-estar, náuseas, dores, mas que são conhecidas e passageiras e não afetam a eficácia.
Mas e durante a gravidez? Não existe risco para a gestante ou para o feto?
As vacinas aplicadas na gestante estimulam a sua própria produção de anticorpos. Esses anticorpos passam pela placenta para o feto e para o bebê, depois que ele nasce, através do leite materno.
Atenção:
A vacinação da gestante não imuniza o bebê.
A vacinação da gestante protege esse bebê através da passagem dos anticorpos da mãe para o feto ou bebê.
Essa proteção dura enquanto esses anticorpos existirem.
Os bebês precisam receber a vacina para serem imunizados, ou seja, para que eles aprendam a produzir seus próprios anticorpos de defesa quando algum risco aparecer.
É sempre importante conversar com o profissional de saúde (obstetra, enfermeira, pediatra) que acompanha o seu pré-natal para conhecer as vacinas que são recomendadas e as contraindicadas nesse período. Além disso, busquem informações somente em fontes confiáveis e oficiais. Acompanhem esse roteiro.
VACINAS RECOMENDADAS DURANTE A GESTAÇÃO
DTPa (Tríplice Adulta Acelular - Difteria, Tétano e Coqueluche)
Doses: Uma, em todas as gestações.
Quando: a partir da 20ª semana de gestação até uma fase bem precoce do puerpério.
Onde: SUS e clínicas privadas.
A proposta é que, através da vacinação da gestante, se promova produção de anticorpos que sejam transmitidos pela placenta ao feto durante a gestação, para proteção do bebê, até que ele receba diretamente a vacina, especialmente contra a coqueluche (Pertussis). Essa primeira dose será aplicada aos 2 meses de idade no SUS (DTP) e nas clínicas (DTPa). Essa recomendação cabe até a todos os familiares próximos que serão rede de apoio para essa mãe e seu bebê.
Hepatite B
Doses: Três doses (0-1 e 6 meses).
Quando: Nas gestantes não vacinadas anteriormente.
Onde: SUS e clínicas privadas.
Influenza (Gripe)
Doses: Uma, em todas as gestações.
Quando: Durante a época que o vírus mais ataca, mesmo que esteja no 1º trimestre de gravidez.
Onde: SUS (Trivalente) e clínicas privadas (Tri e Quadrivalente).
Gestantes são consideradas do grupo de risco para Influenza e têm a vacinação recomendada para sua imunização e para proteção do recém-nascido.
COVID
Doses: 1 dose por gestação (agora não mais como grupo de risco e sim como rotina).
Quando: Em qualquer momento da gestação, em todas as gestações.
Onde: SUS (incluída no PNI - Programa Nacional de Imunizações desde 12/2024).
A partir de dezembro de 2.024, gestantes saem do grupo de risco para COVID-19 em relação à vacinação e entram no PNI, ou seja, tem recomendação para sua aplicação de rotina.
VSR (Virus Sincicial Respiratório – Bronquiolite)
Doses: Uma, em todas as gestações (recomendação do laboratório).
Quando: Entre 24 e 36 semanas de gestação (recomendação do laboratório). A partir da 24ª semana (ANVISA). Entre 32ª e 36ª semanas (SBIm).
Onde: No SUS (desde 13/02/2025, mas com previsão de aplicação apenas para o 2º semestre de 2025). Clínicas privadas (já disponíveis).
Imunização da criança: A vacina aplicada na gestante transfere proteção (através de anticorpos), mas não imuniza a criança. Para isso, a criança com sistema imunológico vulnerável pode receber até os 12 meses de vida, uma dose única de um imunobiológico (nirsevimabe – um anticorpo monoclonal). Para os prematuros de qualquer idade gestacional, essa proteção será disponibilizada pelo SUS
VACINAS CONTRAINDICADAS DURANTE A GESTAÇÃO
Não devem ser aplicadas durante a gestação as vacinas de vírus vivos, atenuados.
Tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola) e varicela (catapora)
Contraindicadas durante a gestação, mas podem ser aplicadas no puerpério e durante o período de amamentação.
HPV
Contraindicada durante a gestação, mas pode ser aplicada no puerpério e durante o período de amamentação. Se o esquema de doses já tiver sido iniciado, suspender até o puerpério.
Dengue
Contraindicada durante a gestação e para imunodeprimidas e nutrizes (durante o os primeiros seis meses de vida). Se a lactante de bebês até 6 meses de idade for vacinada inadvertidamente, suspender a amamentação por 15 dias.
Febre Amarela
Normalmente contraindicada em gestantes. Mas, em situações de grande risco de infecção que superem os riscos potenciais da vacinação, a imunização pode ser feita durante a gravidez.
Se a lactante de bebês até 6 meses de idade for vacinada (inadvertidamente ou se for necessária), suspender a amamentação por 10 dias.
Gestantes em viagem para países que exijam o comprovante de vacinação contra Febre Amarela (Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia - CIVP), sem risco de contrair a infecção, devem receber notificação médica suspendendo essa necessidade.
VACINAS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS DURANTE A GESTAÇÃO
Esse grupo de vacinas inativadas, sendo assim, sem riscos para a gestante ou para o feto, pode ser aplicado em situações especiais, com orientação médica. São elas:
Pneumococos, meningocócicas conjugadas ACWY / C e B, Hepatite A.
Essas recomendações devem ser passadas durante as consultas do pré-natal. O pediatra, em sua consulta de pré-natal, recomendada a partir da 32ª semana de gestação (ou até antes, ou até mais de uma se for o caso) pode esclarecer muitas dúvidas, trazer informações relevantes (como não poderia deixar de ser, sobre a importância do aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até o sexto mês) e reforçar a importância de se manter o calendário vacinal atualizado para a gestante e para seus bebês (após o parto).
Já fez sua consulta pré-natal com seu pediatra? Demorou. Venhaaaaaa... Rsrs
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545