A epidemia de obesidade infantil está relacionada a uma dieta rica em açúcar refinado, gordura saturada e sódio – trinca que acompanha as guloseimas oferecidas na hora do lanche. As refeições principais também não saem ilesas dos maus hábitos alimentares: a falta de tempo faz muitos pais se renderem a frituras, salsichas e hambúrgueres. Para piorar, há ainda um problema generalizado de sedentarismo, no qual a televisão se tornou a principal fonte de diversão infantil. Um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, revelou que cada hora adicional na frente da tela influenciava no aumento da circunferência abdominal em crianças com menos de 4 anos.

A tevê, aliás, tornou-se uma presença comum nas refeições, conforme apontou uma pesquisa sobre a concepção de alimentação das crianças em idade escolar.
“Muitas delas se retratavam nos desenhos jogando videogame e comendo”, conta Roberta Alessandra Gaino, nutricionista e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A pesquisa de Roberta também destaca a influência dos pais nos hábitos alimentares infantis. O primeiro motivo é que o prato da criança é sempre preparado por um adulto. Além disso, pouco adianta pedir para o pequeno comer olhas se o alimento não lhe é ofertado todos os dias ou se os próprios pais não o consomem.
“O alimento só se torna familiar quando é reconhecido nas refeições”, reforça a autora. Outro agravante é que as crianças comem cada vez mais sozinhas – e os hábitos alimentares também são aprendidos copiando os pais à mesa.
“A única forma de criar adultos saudáveis é com uma alimentação benéfica. Afinal, nós somos o que comemos”, atesta Domene.

O leite materno deve ser a única fonte alimentar neste período. E seus benefícios vão além da nutrição.
“Ele fornece os anticorpos que irão proteger o bebê contra infecções”, defende Yechiel Moises Chencinski, pediatra de São Paulo (SP). Sua apresentação, entretanto, muda ao longo dos dias. O colostro – leite produzido na primeira semana após o parto – vem turbinado com proteínas e minerais, mas possui pouca gordura. É ideal para o sistema digestivo frágil do bebê.
“A anemia também é evitada, pois seu ferro tem grande biodisponibilidade”, completa o pediatra. Do 7º ao 21º dia, é hora do leite de transição. Ele possui mais gordura e mais lactose – um tipo específico de açúcar – e tem como objetivo ajudar o recém-nascido a ganhar peso. Daí por diante, inicia-se a produção do leite maduro, que fornece seus nutrientes em momentos diferentes da mamada. Enquanto o leite do início traz proteínas e vitaminas A, D e B6, o do final é rico em gordura. Por esse motivo, é fundamental que o bebê mame a quantidade que quiser para aproveitar todos esses benefícios.
“Vale ainda lembrar que o desmame precoce está relacionado à obesidade infantil, alergias alimentares e anemia”, reforça Chencinski. A alimentação da mamãe ainda conta pontos na qualidade do leite. Apesar de o seu prato não influenciar na presença de minerais, é preciso que ele seja diversificado e balanceado, para potencializar a bebida com vitaminas.

Se a produção de leite é insatisfatória, cabe ao pediatra indicar uma fórmula alimentar láctea. Leite de vaca está proibido para menores de 1 ano, pois há risco de anemia, sangramento intestinal e alergias. Fórmulas à base de soja também devem ser evitadas antes dos 6 meses, devido ao fitormônio do alimento. Há ainda casos em que o recém-nascido apresenta intolerância à lactose, ou seja, não produz a enzima capaz de digerir esse açúcar. Nessas situações, é indicada para o pequeno uma fórmula sem a substância.
“A intolerância à lactose em recém-nascidos é rara e congênita. O sintoma é diarreia líquida e intensa, logo após as primeiras mamadas”, relata o pediatra Yechiel Moises Chencinski.

Ao final da licença-maternidade, a mãe deve deixar leite armazenado para quando estiver fora de casa. O alimento deve ser colocado num frasco de vidro esterilizado e com tampa de plástico. Ele tem validade de 12 horas na geladeira e até duas semanas no congelador. Já quem for ofertar o leite deve dar preferência a colher ou copinho descartável. Isso porque o bico da mamadeira pode dificultar a pegada correta do peito da mãe no futuro.
Fonte | Cartilha Alimentação Infantil,
Da Prefeitura Municipal de Curitiba (2007)

Chegou o momento de explorar novos sabores. O primeiro passo é introduzir sucos naturais de fruta, preparados com pera, laranja, maçã ou goiaba. É provável que o bebê faça cara feia no começo, por isso, apresente uma fruta por vez e repita a oferta oito vezes para confirmar sua rejeição. Uma boa pedida é começar com a laranja-lima, cujo sabor adocicado faz dela uma campeã em aceitação.
“Evite utilizar açúcar para preservar o paladar do bebê”, ensina Priscila Maximino, nutricionista da Clínica Nutrociência, de São Paulo (SP). Um mês após os sucos, introduza as papinhas de frutas. A novidade, claro, também deve vir intercalada com as mamadas.
“Até o segundo ano de vida, a criança é considerada lactante”, lembra Chencinski. O mel deve ser deixado de lado nos primeiros 12 meses, já que pode vir acompanhado de bactéria causadora do botulismo infantil. O início da alimentação complementar exige, ainda, a presença de água – de preferência filtrada e fervida – servida entre as refeições.

Após duas semanas da introdução das papinhas doces, sirva as salgadas. O ideal é oferecê-las em forma de purê.
“Mas amassadas, nunca peneiradas ou liquidificadas”, diz Fernanda Granja, nutricionista de São Paulo (SP). Alimentos que podem provocar alergia estão proibidos, tais como clara do ovo, frutos do mar, peixe, castanhas e carne de porco. Evite ainda embutidos e enlatados. Já a beterraba e o espinafre devem ser consumidos com moderação. Motivo? Eles possuem ácido oxálico, que inibe a absorção do ferro.
“Dos 8 aos 12 meses, o bebê deve receber duas papas de frutas e duas refeições salgadas”, orienta a nutricionista. A regra, entretanto, não vale para as papinhas industrializadas. Utilize-as apenas em situações especiais – como passeios – e após já ter apresentado um leque diversificado de alimentos.
“Por fim, alimentos desfiados, picados ou cortados em pequenos pedaços podem ser incorporados à dieta após os 8 meses”, acrescenta Fernanda.

Leguminosas e verduras escuras possuem um tipo de ferro mais fraco, o que torna a carne um alimento importante para prevenir a anemia neste momento.
“Consumir alimentos ricos em vitamina C – como laranja e goiaba – estimula a absorção do mineral após a papinha. Entretanto, a tática não é suficiente para crianças vegetarianas, que precisam ser suplementadas”, pontua Priscila Maximino. Bebês que não comem carne também necessitam de suplementação de vitamina B12. O nutriente é encontrado apenas em alimentos de origem animal e participa do desenvolvimento neurológico e da formação de hemácias (glóbulos vermelhos do sangue, cuja função é transportar o oxigênio pelos tecidos do corpo).

CARBOIDRATO – Arroz, mandioca, batata, fubá, macarrão ou milho. Eles fornecem energia para o pequeno.
PROTEÍNA – Carne bovina, de frango ou fígado. Esse grupo alimentar é utilizado na construção de músculos, tecido e anticorpos.
LEGUMINOSA – Feijão, lentilha ou ervilha. Oferece proteínas e vitaminas do complexo B, colaborando para o amadurecimento neurológico.
FOLHAS – Couve, espinafre, repolho, agrião, alface ou acelga. Ajudam a turbinar o prato com fibras e combatem o intestino preso.
Fonte | Priscila Maximino, nutricionista da clínica Nutrociência e Moises Chencinski, pediatra, ambos de São Paulo (SP).

Quando em consistência apropriada para o bebê – raspadas ou amassadas -, as frutas são melhores que os sucos. Isso porque elas estimulam a mastigação e possuem mais fibras, geralmente perdidas no processamento da bebida.
Fonte | Priscila Maximino, nutricionista da clínica Nutrociência, de São Paulo (SP).

As crianças já vão para a escolinha ou saem constantemente com os pais. O resultado é que aumentam as chances de infecções por vírus e bactérias. Contra os vilões, invista em doses caprichadas de vitamina C.
“Ela é importante para o sistema imunológico. As frutas e hortaliças são excelentes fontes desse nutriente”, recomenda Aline Maia, nutricionista da Santa Casa de Mauá (SP). Crianças acima de 2 anos também usam e abusam de suas funções motoras: brincam, correm, pulam… Por esse motivo, fique atenta à dobradinha de cálcio e vitamina D, que fortalece os ossos.
“O cálcio está presente no leite e seus derivados [queijos e iogurtes]. Já a vitamina D é sintetizada pela luz solar ou pode ser extraída de peixes como salmão e bacalhau”, ressalta a nutricionista. Caso queira descobrir se seu filho é fã de sashimi, a hora é esta. Com o sistema imunológico fortalecido, crianças acima de 2 anos podem comer peixe cru, desde que o alimento tenha sido armazenado e manipulado com muita higiene.

“A preferência por alimentos doces ou a falta de interesse em experimentar novos pratos fazem com que muitas crianças até 5 anos rejeitem as refeições. A fase – que deixa os pais de cabelos em pé – exige uma dose extra de disponibilidade e criatividade.
“Um bolo de legumes em forma de joaninha, por exemplo, torna-se mais atraente”, ensina Melissa Lippe, nutricionista e diretora da Renutrir, de São Paulo (SP). Barganhar garfadas em troca de presentes ou brigar está fora de cogitação. Caso contrário, a hora da refeição passa a ser associada com coisas pouco prazerosas.

BABY CARROTS
(CENOURINHAS)
Fáceis de levar nos passeios, são ricas em vitamina C, fibras e betacaroteno. O resultado é um sistema imunológico fortalecido.
CASTANHAS – Crocantes, elas vêm acompanhadas de gordura boa e selênio. Com isso, favorecem o funcionamento cerebral.
GRISSINIS COM MEL – “As crianças adoram passar as bolachas-palito no mel, que é altamente energético”, indica a nutricionista Melissa Lippi.
BOLOS E COOKIES INTEGRAIS – Quando caseiros, possuem menos açúcar ou gordura trans do que as bolachas tradicionais.
SALADA DE FRUTAS – Suas cores são atrativas e trazem nutrientes diversificados.

Além de funcionar como brincadeira, as aulas de culinária aproximam os pequenos do mundo da alimentação saudável.
“A criança é curiosa por natureza e os alimentos são extremamente coloridos. Além disso, ela se orgulha de ter participado da elaboração da refeição”, explica a nutricionista Melissa Lippe, que também é professora. De brinde, o curso ainda ensina temas transversais, como higiene pessoal, matemática, organização e trabalho em equipe.

As necessidades nutricionais estão todas voltadas para o crescimento.
“É a fase do estirão, que ocorre primeiro nas meninas. Por isso, reforce os alimentos que são fontes de proteínas, como carnes, leite e queijo banco. Evite apenas iogurte com chocolate”, lista Paula Fernandes Castilho, nutricionista da Sabor Integral Consultoria em Nutrição, de São Paulo (SP). A demanda de energia também é maior por causa do metabolismo intenso, sendo necessário aumentar a oferta de comida.
“Quando o apetite aumenta, é essencial ficar atenta à qualidade dos alimentos. O consumo exagerado de itens ricos em gorduras, açúcares e sódio deve ser evitado”, complementa Raquel Pimentel, nutricionista da Educanutre Consultoria nutricional de São Paulo (SP). Para desviar a atenção dos doces industrializados, faça substituições inteligentes. O milk shake, por exemplo, pode ser feito com leite de amêndoas, creme de leite de soja e alfarroba (um falso chocolate).
“Já o sorvete pode dar lugar à banana batida e semicongelada, com uma colher de cacau em pó”, indica Paula Castilho. Outra recomendação é aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes para cinco porções ao dia.

Os pais devem conversar com o diretor da escola sobre as refeições oferecidas às crianças que estudam em período integral. Outro ponto importante é o lanche levado de casa ou comprado. O Brasil já conta com leis municipais e estaduais que regularizam as cantinas escolares. A maioria estipula a proibição de frituras, refrigerantes, balas e salgadinhos. O problema é que fatores psicológicos e econômicos também podem atrapalhar as boas escolhas alimentares.
“A criança que não leva determinados produtos se sente excluída por seus colegas. Além disso, alguns pais veem no lanche uma afirmação de poder aquisitivo, forçando-se a comprar artigos que nem sempre são saudáveis”, explica Roberta Gaino. Contra o impasse, trave conversas regulares com a criança sobre nutrição e valores.
“Outra saída é preparar os alimentos saudáveis de forma parecida com o lanche das outras crianças”, orienta Natália Colombo.

Confira algumas opções preparadas pelas nutricionistas Natália Colombo, da NC Nutre, de São Paulo (SP) e Paula Castilho para o lanche escolar da molecada.
- 1 copo de iogurte com granola e 4 bolachas tipo Maria.
- 1 fruta / 3 castanhas e 1 barra de cereais.
- 1 caixinha de água de coco e 1 sanduíche natural (com pão integral, queijo branco e peito de peru).
- 1 caixinha de suco de uva integral e natural, 1 maçã e 1 fatia de pão integral com 1 unidade de queijo pasteurizado.

Para evitar que as crianças tenham déficits nutricionais, muitos pais recorrem a suplementos multivitamínicos. Seu uso, entretanto, é desnecessário.
“A alimentação que inclui frutas, verduras e legumes variados é suficiente para suprir necessidades de vitaminas e minerais. Troque a farmácia pela quitanda” brinca Rubens Feferbaum, pediatra e nutrólogo, do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo (SP).

A adolescência bate à porta e, com ela, uma maior influência de fatores culturais e sociais.
“Muitas vezes s jovens deixam de se alimentar bem para não comprometer sua imagem diante dos amigos”, descreve Raquel Pimentel. A junk food torna-se quase obrigatória nas idas ao shopping. Proibir seu consumo, entretanto, não é uma opção.
“Adolescentes vão sempre desejar um lanche de fast food: há a influência da mídia, dos amigos e eles ainda ganham presentes durante a compra. O que faz a diferença é a alimentação feita em casa. Se ela for saudável, o fato de comer uma besteira em um passeio não será problema”, desmistifica Natalia Colombo.

Alimentos que sejam fontes de ferro são importantes para as meninas, pois já há perda do mineral com o início da menstruação. Fontes de vitaminas do complexo B – como banana, carnes e cereais – também são bem-vindas contra a TPM (tensão pré-menstrual).
“Elas ajudam a manter os níveis adequados de serotonina, reduzindo a irritabilidade”, recomenda Natália. Comuns nessa fase, as espinhas que despontam estão relacionadas a alterações hormonais, distúrbios gástricos e deficiência de zinco. Mas alimentos com altos índices glicêmicos – como bolos e bolachas – também podem incentivar seu aparecimento.
“Os picos de insulina estimulam as glândulas sebáceas. Para completar, o excesso de leite também aumenta a produção da proteína IGF-1, que tem uma ação semelhante à da insulina e induz à proliferação celular”, finaliza.

Crianças até 5 ano devem ser submetidas a atividades lúdicas, sem sobrecarga muscular e de curto período. A partir dessa idade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma hora de atividade física por dia, que pode ser uma caminhada durante um passeio ou brincadeiras coletivas. Os esportes entram em cena após os 6 anos, mas sem cobranças.
“A alimentação não muda, mas é importante tomar água durante o exercício”, recomenda o pediatra Rubens Feferbaum. Refeições grandes – como café da manhã ou almoço – devem ser feitas de duas a quatro horas antes da atividade.
“Se o tempo entre a última refeição e a aula for pequeno, priorize apenas os carboidratos (pães, cereais e frutas) e dispense as proteínas (derivados de leite). Isso melhora a oferta de energia sem pesar no estômago”, orienta a nutricionista Raquel Pimentel.

Essa entrevista foi feita por e-mail e não temos sempre a possibilidade de reparar alguns eventuais equívocos de interpretação quando a matéria é passada para o papel (para matérias dos sites ainda temos como solicitar as correções).
Não foram muitas, mas é importante que a informação não cause dúvidas. Se causou em mim, pode causar em outras pessoas
Não vou emitir comentários a respeito de outros pontos da matéria que não foram feitos comigo.
Vamos lá.

Sem leite

Se a produção de leite é insatisfatória, cabe ao pediatra indicar uma fórmula alimentar láctea.
Se a produção de leite é insatisfatória, cabe ao pediatra, inicialmente, fazer de tudo o que for possível para que a normalidade da produção se restabeleça. Se isso não acontecer, aí sim cabe a ele indicar uma fórmula láctea adequada.

Leite de vaca está proibido para menores de 1 ano, pois há risco de anemia, sangramento intestinal e alergias.
Leite de vaca integral está proibido para menores de 1 ano, pois há risco de anemia, sangramento intestinal e alergias.

“A intolerância à lactose em recém-nascidos é rara e congênita. O sintoma é diarreia líquida e intensa, logo após as primeiras mamadas”, relata o pediatra Yechiel Moises Chencinski.
“A intolerância à lactose congênita em recém-nascidos é rara. O sintoma principal é diarreia líquida e intensa, logo após as primeiras mamadas”, relata o pediatra Yechiel Moises Chencinski.

De 6 meses a 1 ano

“Até o segundo ano de vida, a criança é considerada lactante”, lembra Chencinski.
“Até o segundo ano de vida, a criança é considerada lactente”, lembra Chencinski.