Do site Pediatra Orienta da SPSP
Relator:
Dr. Moises Chencinski
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP (2013-2016)
Quando o intestino "adoece" o corpo também "adoece" e informa ao bom observador outros sinais e sintomas que podem levar o pediatra ao diagnóstico adequado, precoce, favorecendo o tratamento e a orientação mais adequados para cada caso.
15/01/2014
Esses sintomas associados podem estar presentes tanto no sistema digestório (vômitos, náuseas, distensão abdominal, gases), como em outros sistemas e aparelhos de nosso organismo.
E não devemos deixar de observar sintomas gerais (estado de hidratação, febre, suor, tremores, apetite, humor, perda ou não ganho adequado de peso) que, quando associados aos quadros intestinais, podem orientar o pediatra na busca pelo conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde.
Segundo a OMS, saúde é o estado de completo bem-estar físico mental e social. Mas como definir isso em um bebê?
A observação dos pais e da família, o contato e as avaliações pediátricas nas consultas de rotina podem “determinar” se a saúde do bebê está adequada. Vários são os parâmetros utilizados para esse diagnóstico:
• crescimento e desenvolvimento;
• acompanhamento de alimentação, vacinação, sono e também as suas funções fisiológicas – urina e fezes.
Assim, a avaliação das características das fezes e do ritmo intestinal e suas mudanças faz parte da avaliação do estado de saúde de um bebê.
Bebês em aleitamento materno exclusivo (AME) podem evacuar a cada mamada ou passar até 5 a 7 dias sem evacuar e as fezes podem variar de líquidas a pastosas. Esse ritmo e essas características evoluem até que chegam a um ano de idade (ou até adultos) quando o ideal é evacuar pelo menos uma vez ao dia, fezes formadas, de consistência firme, porém não ressecadas.
Em crianças em aleitamento misto ou em uso exclusivo de fórmulas infantis (FI), as fezes costumam ser mais ressecadas e o ritmo intestinal passa a ser mais espaçado, mesmo em bebês pequenos. Essa mudança das fezes fica mais evidente quando é introduzida a alimentação complementar, atualmente aos 6 meses completos, independente de ser AME ou aleitamento misto ou só com FI.
Assim, fica claro que são muitas as variáveis para essa análise, devendo ser levadas em consideração tanto a consistência das fezes quanto o ritmo de evacuação, que são variáveis de acordo com cada criança, com cada faixa de idade, com cada padrão de alimentação. Sempre devemos estar atentos a mudanças do padrão, especialmente se forem agudas.
Diarreias e obstipações intestinais (prisão de ventre) agudas costumam ser um sinal de que algo não vai bem.
A diarreia é um quadro de mais fácil observação, as fezes ficam de consistência líquida, em maior número de vezes ao dia, deve-se levar em conta o estado de hidratação da criança e, especialmente para os bebês pequenos, este quadro deve ser comunicado ao pediatra. Depois da diarreia costuma vir um período de obstipação transitório, que se regula em dias.
Em outras crianças, o intestino pode ser mais preso, seja pela consistência endurecida das fezes (cíbalos, parecidas com fezes de cabritos), que dificultam sua expulsão, ou por características do funcionamento do intestino.
A alimentação e a hidratação são fatores importantes associados a esse quadro. Até os 6 meses, o tipo de leite geralmente determina o ritmo intestinal (leite materno – mais amolecidas; fórmulas infantis – mais ressecados). Após os 6 meses, a alimentação complementar e a hidratação serão importantes no ritmo regular das evacuações. É importante lembrar que só o intestino (fezes e ritmo) não é suficiente para indicar algum problema.
O mais importante é avaliar como está a criança, com a mudança observada – se apresenta algum incômodo, seja no apetite, no humor, se estão ocorrendo outros sintomas (febre, vômitos), o pediatra deverá ser consultado.
Normalmente, bebês em uso de fórmulas infantis apresentam fezes mais secas, mais duras e em ritmo mais lento do que os que estão em AME. Esta é uma das principais preocupações das indústrias alimentícias quando da fabricação de suas fórmulas infantis, tentando se assemelhar, o máximo possível, à composição do leite materno.
A diferença nas características e nas proporções dos carboidratos, proteínas e gorduras entre o leite materno e as fórmulas, além dos micronutrientes, são fatores determinantes tanto no aspecto nutricional, na prevenção de anemias, desnutrição, obesidade infantil (entre outros problemas). Uma das tentativas das indústrias para solucionar essa questão é a adição de prebióticos (fibras especiais) e probióticos (bactérias que fazem parte da flora intestinal normal) à sua composição, tentando imitar ao máximo o leite materno.
Um hábito importante que todos deveriam ter é observar suas fezes e de seus filhos às trocas de fraldas, ou antes, de dar a descarga, até certa idade as mães (também pais e demais cuidadores) devem fazer isso. Qualquer alteração sempre merece ser observada e algumas vezes investigada.
O recém-nascido (RN) apresenta como sua primeira eliminação um tipo especial de fezes que é conhecido como mecônio (verde, grudento, difícil de limpar) que após alguns dias (no máximo uma a duas semanas) costuma assumir as características de fezes mais amareladas e mais líquidas e que, com o passar dos meses, ficam mais escuras e mais consistentes. Assim, nem sempre uma mudança nas características das fezes ou no ritmo intestinal é sinal de alerta.
Em qualquer fase da vida há alguns sinais que devem chamar nossa atenção. Nessa fase inicial, a presença de sangue nas fezes é um sinal que deve ser sempre comunicado ao pediatra por poder representar, por exemplo, um dos primeiros sinais de alergia à proteína do leite de vaca (APLV). Mas a presença de sangue nas fezes pode aparecer após a vacina de rotavírus, em um quadro conhecido como invaginação intestinal (causa muito comum de obstrução e sangramento intestinal entre 4 e 12 meses de vida, mas acompanhada de outros sintomas). Já em crianças maiores, a presença de sangue nas fezes pode ser consequência de intestino muito preso (obstipação intestinal), fissuras anais, infecções intestinais, alguns tipos de verminose e até hemorroidas. Em resumo: presença de sangue nas fezes deve ser sempre investigada. Só para aliviar um pouco a tensão, em crianças maiores, fezes vermelhas pode ser o resultado da ingestão de beterraba. Assim, fiquem de olho no prato das crianças.
A presença de muco ou catarro nas fezes também não costuma ser um bom sinal. Ele pode indicar inflamação do intestino. Síndrome do intestino irritável, colites podem apresentar essa característica das fezes.
Em crianças maiores, que já evacuam no vaso, prestar atenção em fezes que boiam. Essa característica pode indicar um aumento de eliminação de gordura pelas fezes (esteatorreia), caracterizando problemas de absorção alimentar.
As fezes não costumam se mover. Se algo dentro ou ao lado ou perto delas se mover, sempre temos que pensar em vermes. A maioria deles não é visível a olho nu, mas alguns podem ser observados em seus “passeios” (Ascaris – lombriga; oxiúros – aqueles fiozinhos de linha pequenos que se multiplicam no ânus e coçam muito; tênia – a solitária, entre outros).
Quando se observar nas fezes pedaços de alimentos não digeridos, podemos estar diante de problemas do sistema digestório, que pode começar na boca, má mastigação, por exemplo, e ir até o intestino caracterizando uma má absorção.
Para complementar, quando se avaliam as fezes em suas características de cor, consistência e ritmo intestinal, teremos sempre um alerta de parte de nosso organismo de que mudanças podem estar ocorrendo. E essas transformações podem ser fisiológicas (normais) ou patológicas.
Quando o intestino "adoece" o corpo também "adoece" e informa ao bom observador outros sinais e sintomas que podem levar o pediatra ao diagnóstico adequado, precoce, favorecendo o tratamento e a orientação mais adequados para cada caso. Esses sintomas associados podem estar presentes tanto no sistema digestório (vômitos, náuseas, distensão abdominal, gases), como em outros sistemas e aparelhos de nosso organismo. E não devemos deixar de observar sintomas gerais (estado de hidratação, febre, suor, tremores, apetite, humor, perda ou não ganho adequado de peso) que, quando associados aos quadros intestinais, podem orientar o pediatra na busca pelo conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545