Do site Pediatra Orienta da SPSP
Relatores:
Dr. Moises Chencinski
Dr. Tadeu Fernando Fernandes
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.
por
17/02/2014
Quais as características da criança que deixa de ser bebê, por volta dos dois anos? O que isso tem a ver com birras?
O que se chama de birra é muito mais uma reação que a criança consegue ter com as ferramentas que ela dispõe para trabalhar com suas frustrações. E ela precisa ter frustrações para entender que “o seu umbigo não é o centro do mundo”. Algumas regras passam a ser mais observadas, algumas rotinas se fazem necessárias (hora para dormir e para acordar, para comer, para brincar, para a sonequinha do dia, para ir ao banheiro, para tomar banho), para que isso, na prática, facilite o nosso dia. A criança vai testar o limite dos pais, é nessa hora que se diferencia pais educadores e pais cuidadores.
Como saber se a criança está pronta para o desfralde?
Cada criança é única e precisa ser acompanhada individualmente. Como o desenvolvimento neuropsicomotor vai da cabeça para os pés (crânio-caudal), e de dentro para fora (do centro para a periferia do corpo), não adianta, por exemplo, esperar que uma criança que não sabe ficar de pé ande. E mesmo quando ela começa a andar, as quedas são frequentes porque o equilíbrio adequado ainda não se desenvolveu. Em relação ao processo de eliminações (urinar/evacuar), há de se esperar o momento adequado de desenvolvimento para que tenhamos sucesso nas tentativas de retirada de fraldas. Apesar de a musculatura envolvida ser a mesma, tanto para o controle das fezes, quanto da urina, os esfíncteres são separados e o habitual é que a criança consiga desenvolver a habilidade do sistema digestório antes do urinário. E o controle acontece primeiro durante o dia e, algum tempo após, durante a noite.
A criança precisa passar por pelo menos 3 fases variáveis em duração, mas não em ordem, para que se comprove sua capacidade de iniciar o treinamento, sem que ela seja “forçada” a isso:
• Avisar que fez (fezes ou urina);
• Avisar que está fazendo;
• Avisar que quer fazer.
Freud pode ter sido um dos responsáveis pela precocidade do treinamento quando estabeleceu que aos dois anos inicia-se a fase anal. O fato de ela se iniciar aqui, aos dois anos, ainda não significa que a criança esteja totalmente preparada para controlar e exercer a função segurar/soltar de forma correta e nem que ela já tenha consciência disso. Assim, é nesse momento que devemos pensar em iniciar o treinamento. Isso deve ocorrer quando a criança começa a segurar fezes e urina e olha para os pais/professores com cara de “e agora o que é que eu faço?”.
Nesse momento, toda atenção dever ser dada a esse treinamento, atendendo imediatamente à necessidade da criança, nunca criticando e nem punindo o insucesso e sempre se colocando ao lado da criança, tanto apoiando e estimulando, quando não der certo, como elogiando e “vibrando” com os bons resultados.
Aos dois anos a criança já está grande para quais atividades? Comer sozinha, vestir-se sozinha, escovar os dentes? O que deve ser estimulado? O que ainda precisa de supervisão?
A criança de 2 anos ainda é uma criança… e de 2 anos. Nessa idade, para que ela se desenvolva bem, ela precisa da família, de amparo, de acolhimento, de exemplos, de referências. Por volta dos 2 anos de idade a criança precisa brincar, desenvolver seu imaginário, seu lado lúdico, testar seus limites e os dos pais e cuidadores.
Aos 2 anos de idade a criança ainda está descobrindo seu corpo, desenvolvendo suas habilidades de equilíbrio, de se comunicar, de interagir. Nessa fase de desenvolvimento e descobertas, tudo o que for feito de forma divertida, descompromissada, lúdica, sem excessos pode ser tentado com a criança. Assim, fortalecendo o vínculo familiar, teremos crianças se desenvolvendo de forma saudável, segura e a formação de indivíduos com valores, futuros cidadãos, e cada uma dessas fases não necessitará de um guia, mas será uma evolução natural de um processo sem pressa, sem cobranças, com sucessos e frustrações compartilhados.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545