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O ótimo é inimigo do bom: armadilhas da maternidade

Do site JorNow

Essa é uma frase que eu ouvi da minha sogra, que mães que passam comigo em consultas já devem ter escutado muuuuuuitaaas vezes.

26/02/2014

Parece até que mães são sempre assim.
Por que mães são tão críticas e tão duras consigo mesmas?
Qual a necessidade de serem mais-que-perfeitas?
Por que razão elas precisam ser as melhores mães do mundo?
Quantas mães se sentem tristes e culpadas se um filho não se comporta bem ou não tem o melhor aproveitamento escolar do mundo?

Essas são armadilhas muito comuns e muito perigosas da maternidade, que afetam as mães desde o começo da gestação. Fantasmas que assombram o imaginário materno fazem, em grande parte das vezes, que se perca a beleza do processo, focando apenas no final da estrada.

E parece que familiares, amigos, vizinhos, até médicos, todos que deveriam ser o suporte e dar o apoio a essas mães, percebem essa fragilidade e intencionalmente cutucam as feridas. E elas doem. Doem muito e trazem consequências que podem afetar não só essas mães, mas seus indefesos, e muitas vezes não nascidos ainda, filhos.

Alguém se lembra de ter recebido comentários positivos entre a descoberta da gestação e o seu final? A impressão que fica é que ou nenhuma mulher foi feliz em sua gestação ou que elas estão de "sacanagem", não é mesmo?

• “Grávida? Nesse calor? Meu Deus, você não sabe o que te espera... Vai inchar muito...”;
• “Se prepara. Aproveita pra dormir agora, porque quando a barriga crescer, você vai acordar toda noite pra visitar o banheiro...”;
• “Ainda não está com náuseas. Noooosssaaaaa. Então se prepara. Quando elas começarem, você não vai aguentar nem o cheiro da comida...”;
• “Quantos quilos você engordou??? Tudo isso??? Só isso??? Vai levar uma baita bronca do seu médico...”
• “Parto normal? Você tá doida?? Dói pra carambaaaaaa... Cesariana???? Por que???? Quer aumentar a estatística negativa do Brasil???”.

E isso se repete no parto, na maternidade (já com receitas de fórmulas infantis, mesmo ANTES de saberem se você vai ou não conseguir amamentar ou mesmo se você quer amamentar) e assim sucessivamente.

E o aleitamento materno então?

• “Esse bebê tá muito magro / gordo!!! Também pudera, né. Fica o tempo todo grudado nesse peito (que aliás vai cair e chegar no seu umbigo...)”;
• “Ela está chorando é de fome. No meu tempo, a gente dava logo uma mamadeira engrossada com farinha, furava o bico da mamadeira pra facilitar e não tinha bebê que chorasse de fome, viu...”;
• “Por que não pode dar nem água nesse calor infernal. Esse bebê vai desidratar. Ou você acha que só o leite materno pode dar conta disso?”;
• “Ah, quanta frescura”! Vai morrer porque vai lamber um pouco de um sorvetinho logo depois de mamar o seio?”.

E o pior é a semente da dúvida plantada na cabeça e nos seios dessa mãe, que tem, como único desejo, dar o melhor de si para seu bebê: o leite materno. E essa mãe passa a não acreditar em si mesma. E aumenta, dessa forma, o risco de desmamar.

E quando a criança cresce, os desafios aumentam e parece que quanto mais fazem, mais erros as mães cometem. E a sensação de culpa aparece, cresce e toma conta de todo o cenário...

CHEGAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!! BASTAAAAAAA!!!!!!!!!!

Ufa. Menos, gente. Muito menos. Slow Down. Relaxem. Iiiinnnsssspireeee. Eeeeexpiiiireeee!!!! Isso. Mais calmas?
Vamos lá.

Quando focamos em problemas e nos deixamos influenciar por tantas opiniões e tantos palpites, deixamos de viver, de vivenciar o caminho, de olhar, de escutar, de sentir, de escrever a nossa própria história, de errar nossos próprios erros e de acertar nossos próprios acertos.

Sim. É importante compartilhar experiências já vividas.
Sim. É bom saber que as pessoas se importem.
Sim. É interessante saber que as nossas vivências estão sendo alvo do interesse de pessoas queridas.

Mas é necessário que cada mãe tome o comando de sua gestação, de seu parto, de seu filho, de seu aleitamento, de sua vida. EMPODERAMENTO. Esse é um caminho.

Ninguém vai dar esse poder às mães. É necessário que elas o conquistem e não tenham pudor ou culpa por defender suas ideias, sua forma de pensar. O apoio do marido, da família, de um pediatra que sigam sua linha de pensamento pode ser de grande ajuda.

Mas ao final, o importante é não se exigir a perfeição. Tenha certeza que tudo o que você fizer pode e será usado a seu favor. Nada substitui ou se compara ao amor, ao carinho, ao aconchego que uma mãe dedica a seu filho.

Pra terminar, coloco aqui um vídeo que vi no Facebook enquanto escrevia esse texto. Divirtam-se mais. Aproveitem mais.
A chegada é importante, mas nada se compara ao caminho.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545