Do blog Mamãe Prática
Pediatra explica por que há tantos casos de crianças com esse problema. Segundo o Dr Moises Chencinski, o diagnóstico de colesterol alto está sendo procurado mais precocemente pelos médicos
17/05/2014
Antigamente, era muito difícil ouvirmos casos de crianças com hipercolesterolemia, o termo médico para o que chamamos popularmente de “colesterol ruim” ou “colesterol alto”, ou seja, quando existe um nível elevado de LDL (lipoproteína de baixa densidade) no sangue.
O fato é que, no passado, muito antes dos anos 2000, as crianças viviam de outra forma e também comiam de maneira bem diferente dos dias de hoje. Se agora é muito fácil e rápido preparar refeições com produtos industrializados e sair para comer fora de casa, quem aí está disposto (ou consegue) ir para a cozinha e preparar receitas mais saudáveis, mas que levam um tempo significativo para preparar?
Se você trabalha das 9h00 às 18h00 e tem apenas uma hora para almoçar, não tem como fazer mágica para, nesse intervalo, ir para casa, preparar o almoço e dar para seu filho (que se for devagar para comer então …). Algumas mães adotam a estratégia de preparar o almoço na noite anterior, isso pode ser uma saída …
Por tudo isso e por muitas outras coisas que todos nós estamos cansados de saber, como crianças cada vez mais sedentárias e que se alimentam muito mal, cresce assustadoramente o número de crianças brasileiras com colesterol alto. E se não bastasse ainda existe a herança genética familiar que têm contribuído para o aumento desses casos.
Não é a toa que o nosso outro texto “Crianças com colesterol alto: alimentos que podem e não podem entrar na dieta” está liderando, por muitos meses, a lista de posts mais lidos aqui no Mamãe Prática. Como temos recebido muitos comentários de pais preocupados com o problema, pedimos ao médico especializado em Pediatria e Homeopatia, Dr. Moises Chencinski, para esclarecer mais dúvidas sobre o tema. É o que mostramos na entrevista a seguir:
Podemos abordar essa questão sob duas formas:
- Sim, o número de crianças com colesterol alto no Brasil cresce por conta da alimentação inadequada que leva a uma alteração metabólica importante, demonstrada pelo aumento dos índices de obesidade de forma geral, inclusive a infantil, demonstradas por levantamentos estatísticos oficiais. Além disso, novos estudos a respeito de nutrogenômica e epigenética têm mostrado a influência da alimentação inadequada na manifestação dos genes, levando a essa situação de sobrepeso e dislipidemias [níveis elevados ou anormais de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue], além de diabetes tipo 2 e hipertensão arterial, entre outras patologias que eram de adultos [agora ocorrem] em idades cada vez mais precoces, inclusive na primeira infância.
- Além da questão alimentar e até por conta dessas constatações, o diagnóstico está sendo procurado mais precocemente e com mais afinco pelos médicos, baseados em novas diretrizes como a 5ª Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, publicada em outubro de 2013.
Assim, a triagem de perfil lipídico passa a ser rotineira entre 2 e 10 anos de idade quando houver:
• História de pais ou avós que tiveram problemas arteriais antes de 55 anos no sexo masculino ou 65 anos no sexo feminino;
• Pais com níveis de colesterol total acima de 240;
• Fatores de risco na criança associados (como hipertensão, obesidade, diabetes, ter nascido pequeno para a idade gestacional, seguir uma alimentação inadequada e rica em gorduras saturadas);
• Crianças em tratamento de doenças ou que usem drogas [medicamentos] que aumentem as taxas de lipídios (tratamento de HIV, hipotireoidismo etc.);
• Tenham outras manifestações aparentes de problemas de colesterol.
Além disso, a diretriz recomenda que acima dos 10 anos, com ou sem esses fatores, toda criança deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez. Vale lembrar que os valores de colesterol total e frações para crianças e adolescentes são diferentes dos valores dos adultos.
“A diretriz recomenda que acima dos 10 anos, com ou sem esses fatores, toda criança deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez”
Há vários fatores que contribuem para essa situação, desde tendências herdadas (fatores genéticos), alimentação inadequada e sedentarismo até algumas doenças metabólicas e tratamentos medicamentosos que podem levar a esse tipo de alteração.
Sim. E essa é uma situação mais frequente hoje em dia: a dislipidemia familiar. Essa mudança de estatística levou a Sociedade Brasileira de Cardiologia a publicar, em setembro de 2012, a 1ª Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar que também traz uma nova visão sobre essa situação e faz as recomendações de avaliações laboratoriais e clínicas mais precoces, de acordo com fatores de risco já mais conhecidos.
Normalmente, a ingestão de leite não é uma das principais causas da hipercolesterolemia, mas pode ser um fator a contribuir nesse caminho, junto com o restante da dieta.
Tanto para diagnóstico clínico e laboratorial quanto para tratamento e acompanhamento, é necessário o acompanhamento médico (pediátrico) de rotina, assim como uma avaliação e orientação nutricional. A regularidade de atividade física, sob orientação de profissional habilitado e preparado, é um dos fatores que podem colaborar para o controle da obesidade e suas consequências, entre elas a dislipidemia.
“Novos estudos a respeito de nutrogenômica e epigenética têm mostrado a influência da alimentação inadequada na manifestação dos genes”
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545