Do portal SEGS
Amamentação: Um ganho para toda vida! é o tema da Semana Mundial da Amamentação (SMAM) de 2014
por Márcia Wirth
24/06/2014
Mães que lutam contra a depressão podem se sentir hesitantes em continuar a tomar medicamentos antidepressivos durante a amamentação. Um trabalho de pesquisadores australianos sugere que há mais benefícios no uso de antidepressivos por essas mulheres do que riscos na exposição dos bebês às drogas.
Segundo a pesquisa do Instituto de Pesquisa Robinson, da Universidade de Adelaide, na Austrália, em vez de se constituir num risco para os recém-nascidos, os antidepressivos podem tornar mais provável que as mães amamentem seus bebês durante o período de seis meses, período recomendado pelos pediatras.
"Esta é uma constatação muito importante, porque sabemos que a amamentação tem múltiplos benefícios para a criança e para a própria mãe, incluindo um grau de proteção contra a depressão pós-parto. No entanto, existe muita controvérsia sobre se as mães devem tomar antidepressivos durante a amamentação. Os opositores argumentam que há pouca pesquisa sobre os efeitos que esses medicamentos podem ter sobre o bebê em longo prazo, enquanto os defensores dizem que é melhor para a mãe e para a criança o fato de a mãe manter seus medicamentos e não arriscar um ataque de depressão", afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
O estudo australiano analisou um grupo de centenas de mulheres na Dinamarca, com ênfase nas que faziam uso de uma determinada categoria de antidepressivos chamados SSRIs ou inibidores da recaptação da serotonina. Os pesquisadores identificaram dois grupos de mães em sua amostra: aquelas que faziam uso de medicamentos SSRIs antes de engravidar e que continuaram fazendo uso durante a gravidez, e aquelas com depressão não tratada que não tomaram SSRIs antes, durante ou após a gravidez.
Os pesquisadores descobriram que um total de dois terços das mulheres do primeiro grupo parou de tomar a medicação para amamentar. Enquanto isso, o terço restante do primeiro grupo continuou a fazer uso da medicação ininterruptamente, durante a gravidez e a lactação. 70% das mulheres que não interromperam o uso dos medicamentos antidepressivos conseguiram amamentar até a marca de seis meses ou mais, enquanto 57% das mulheres que pararam de tomar a medicação pararam de amamentar antes do sexto mês de vida do bebê. 54% das mães com depressão não tratada, que nunca tomaram antidepressivos, também pararam a amamentação antes dos seis meses.
A pesquisa sugere que as mães com depressão não tratada apresentam mais dificuldade em amamentar com sucesso do que as mães que mantém o uso de antidepressivos. Os pesquisadores apontam que os benefícios para a saúde da amamentação superam os riscos potenciais da exposição aos antidepressivos. Eles também encorajam os membros da família, amigos e profissionais de saúde a apoiarem a mãe que amamenta, se ela optar por continuar a tomar a sua medicação.
“A Academia Americana de Pediatria divulgou um relatório, no ano passado, onde lista medicamentos que são seguros para as mulheres tomarem durante a amamentação, incluindo alguns antidepressivos. Há também alguns estudos que mostram que os bebês que são amamentados não parecem ser expostos a níveis elevados de certas drogas SSRIs através do leite materno. Outros estudos apontam riscos para crianças, como interrupção do sono e cólicas, além de potenciais riscos desconhecidos, em longo prazo”, diz o médico.
Por aqui, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a consulta ao Manual AMAMENTAÇÃO E USO DE MEDICAMENTOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS (2ª edição da publicação – 2010) do Ministério da Saúde sobre amamentação e uso de drogas. Há um capítulo (página 21) dedicado aos antidepressivos com recomendações dos que devem ter a preferência em caso de absoluta necessidade de seu uso.
Moises Chencinski destaca que enquanto os efeitos, em longo prazo, do uso de antidepressivos por mães que amamentam são desconhecidos, os efeitos, em longo prazo, de ser criado por uma mãe com depressão não tratada já estão bem estabelecidos. “Mães com depressão grave, não tratada, podem não sorrir para seus bebês, não fazer contato visual com seus bebês ou não atendê-los quando eles choram, dificultando a formação de vínculos e colocando os bebês em risco aumentado de desenvolver ansiedade e depressão mais tarde na vida”, afirma.
E mesmo sendo delicado é preciso abordar outro aspecto: o suicídio continua a ser uma das principais causas de morte entre as mulheres grávidas e no pós-parto e até uma em cada sete mulheres sofrem de depressão pós-parto em algum momento de suas vidas. “A desinformação sobre a exposição às drogas SSRIs no útero e no leite materno pode colocar mais uma barreira entre uma mulher deprimida e o tratamento para salvar sua vida”, diz o pediatra.
Estudos sobre depressão e amamentação pregam que o importante é fortalecer o vínculo mãe-bebê. Se a amamentação é importante para a mãe que tem depressão, seus médicos devem ajudá-la a encontrar um antidepressivo que não vai afetar o nível de serotonina do bebê. Por outro lado, se a mãe que tem depressão não deseja amamentar, ela não pode ser forçada a fazê-lo, porque isso pode prejudicar seu relacionamento com seu filho.
“Por causa dos riscos documentados em alguns estudos e talvez por causa do estigma ainda associado à doença mental, este tema não é abordado por obstetras e ginecologistas habitualmente. No entanto, é fundamental discutir o uso de antidepressivos com as pacientes com depressão que engravidam. Os pediatras também precisam aprender a reconhecer, entre as mães de seus pacientes, as que têm depressão, enquanto os psiquiatras devem conversar com suas pacientes sobre os problemas relativos à amamentação e o uso de antidepressivos, pois quando as gestantes têm informações erradas sobre os antidepressivos, elas podem tomar duas atitudes radicais: não amamentar e/ou abandonar o medicamento”, defende Chencinski.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545