Do site da Crescer
Proteger, apoiar e promover a amamentação vai muito além de recomendar o leite materno, destaca o pediatra. Entenda!
por Dr. Moises Chencinski - colunista
17/06/2022
Mundo polarizado esse nosso de hoje, né?
Se você não é a favor, então você é contra.
E se você não é contra, então, você é a favor.
Um respiro. Uma reflexão.
É sempre assim? Não é assim nunca?
O que você pensa de um ditado (será que tem?) alemão (será que é?) que vem sendo repetido com frequência nas redes:
“Se um nazista se senta à mesa com 10 pessoas e ninguém se levanta, então há 11 nazistas.”
Contra, a favor, muito pelo contrário???
Certo? Errado? Quem sabe?
A sociedade, a cultura, o tempo, a religião e a “política” podem interferir nesses conceitos? Podem, mas não deveriam.
“Errado é errado, não importa quem o faça ou diga.”
Frase atribuída a Malcolm X, ministro muçulmano, ativista de direitos humanos.
Para evitar desentendimentos e desavenças, é aconselhável que nossa fala esteja alinhada com nossa prática. Falar é muito fácil e cômodo. Muitas vezes, até impensado. E pode depender de interpretações. Agir já é mais comprometedor.
Tô esperando. Ele vai falar de amamentação. Quer apostar?
Recomendar (do dicionário, lógico):
- Indicar, aconselhar, lembrar; como bom por suas qualidades;
- Solicitar atenção especial;
- Indicar (algo) de maneira cortês, porém incisiva.
Recomendação (do meu site):
- É uma declaração de prática que potencialmente provê um benefício à saúde da população atingida.
- Geralmente é indicada por uma organização ou um grupo de indivíduos com expertise ou ampla experiência no tema em questão.
A OMS, o Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Pediatria “recomendam”:
Aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês.
Eu também recomendo. Isso faz de mim um pediatra a favor da amamentação?
Não. Lógico que não.
Você conhece algum profissional de saúde materno-infantil, especialmente pediatra, que se diga contra o leite materno, contra amamentar?
Eu não conheço.
Aliás, a maioria dos pediatras são tão a favor da amamentação, como os obstetras são a favor do parto normal. A taxa recomendada de cesarianas pela OMS é de 15%. E, ainda assim, já chegamos até a 90% em São Paulo e, atualmente, no Brasil, estamos em 57%. Então, atingimos 42% (57-15) de “desnecesárias”?
Cuidado. O Google não amamenta.
Carentes de escuta, de apoio e de informação, as mães buscam quem?
Dr. Google.
Compare em números de resultados de busca:
Leite Materno - 17.800.000
Fórmula infantil - 60.600.000 + Leite de vaca - 15.500.000 = 76.100.000
Seio materno - 768.000
Mamadeira - 11.000.000 + Chupeta - 17.900.000 = 28.900.000
E, pelo algoritmo (lembra dele), o que você acha que aparece mais e antes?
Dá pra competir?
Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
A mulher se prepara durante um pré-natal (média de 9 meses), orientada sobre a importância de um recomendado parto vaginal (normal) e, ao final, tem seu desejo frustrado.
E quantas mulheres, após essa primeira “decepção” e “desencantamento”, não produzem lágrimas no lugar de leite? Daí, acabam orientadas, desde a maternidade, por inúmeras “justificativas”, para os “substitutos de leite materno”, oferecidos nos “substitutos dos seios” (mamadeiras ou chuquinhas), por “substitutos de mães” (pesado, né?). Apenas 45,8% das crianças menores de 6 meses estão no recomendado aleitamento materno exclusivo no Brasil.
Parto normal e aleitamento materno são direitos da mãe e do bebê.
Proteger, apoiar e promover a amamentação vai muito além de recomendar o leite materno.
Ser “a favor” não é “não ser contra”.
Ser a favor é agir, é não ceder ao primeiro (ou segundo, ou décimo) desafio, é atuar de acordo com o desejo da mãe, com o aconselhamento (escuta ativa, empatia, sem julgamentos) para o bem-estar e a saúde da criança, da mãe, da família, da sociedade, do planeta.
AGIR. ATIVAMENTE. DE FORMA CONCRETA.
COM CONSCIÊNCIA E COM CIÊNCIA.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545