Essa é mais uma das matérias que não foi publicada na Revista Cláudia. As perguntas (boas) foram feitas, o material foi preparado, mas a matéria, ninguém explica a razão, não saiu. Assim, como o tema é bom, as perguntas foram boas, a matéria ficou boa, vai aqui no site mesmo para divulgação.
10/09/2011
Crianças não são adultos em miniatura e necessitam de cuidados de profissionais que saibam entender suas características e suas necessidades.
Mesmo sendo encarado algumas vezes pelas famílias como um cara bravo, outras vezes firme demais, o pediatra, com toda certeza, é amigo das crianças. É para cuidar delas que o médico (do grego: iatreia) das crianças (do grego: paidos) se forma, estuda, se atualiza constantemente, durante toda sua vida profissional.
Assim como a evolução das crianças pode ser notada dia-a-dia, a medicina, através de estudos e de observações constantes, também se atualiza em uma velocidade, algumas vezes, até assustadora.
Ainda mais no tempo da informação rápida, através da evolução absurdamente veloz da comunicação, com celulares, computadores e seu concorrente mais importante e mais temido (o Dr. Google), se o pediatra não se ligar e/ou se logar, ele acaba sendo engolido pela falta de tempo para se atualizar.
Por essas e outras características, apesar de ser o médico generalista e especializado em crianças, o pediatra não sabe tudo, não conhece tudo e não tem tempo de estudar tudo. Por isso, ele tem amigos. Esses são outros profissionais que optaram por atender as crianças também, porém de forma mais especializada.
Assim, deixe-me apresentar alguns dos mais importantes amigos que ajudam o pediatra a prevenir, curar ou atenuar as doenças das crianças de quem ele tanto gosta.
Sabe quando você bate uma foto com flash e, algumas vezes, aparece um reflexo vermelho nos olhos de alguém?
Isso é sinal de que a luz foi até a retina, passando por todas as estruturas do olho (córnea, câmara anterior, íris, pupila, cristalino, humor vítreo) e refletiu de volta. Ou seja, a luz não tem nenhum obstáculo em seu caminho e existe a possibilidade de uma visão perfeita.
Esse teste, conhecido como reflexo vermelho, ou Teste do Reflexo de Bruckner, ou Teste do Olhinho já é feito agora nas maternidades, no próprio berçário, pelo pediatra ou pelo oftalmologista.
Quando o teste é positivo e vemos o reflexo: ótimo, não há problemas.
Mas e quando esse reflexo não aparece? Isso significa sempre problemas?
Às vezes, é muito difícil fazer o recém-nascido abrir seus olhos para que o teste seja feito de forma apropriada, mesmo quando são utilizadas todas as técnicas adequadas e possíveis na realização desse exame (penumbra, para facilitar a dilatação das pupilas, uma fonte de luz especial colocada a 1 metro da criança, bebê calmo, sem fome, etc.).
Mas, quando conseguimos observar que esse reflexo aparece de outra cor, podemos estar diante de alguns problemas. A grande importância do exame é a detecção precoce de doenças que comprometem o eixo visual, como a catarata congênita, o glaucoma congênito e outras.
Caso o bebê não tenha feito o exame nas primeiras semanas de vida, poderá fazê-lo posteriormente, em qualquer idade, pois muitas doenças passíveis de diagnóstico precoce podem aparecer mesmo após as primeiras semanas de vida.O tratamento de todas essas doenças, quando feito antes do período crítico (primeiros três meses de vida) tem resultados muito melhores.
Mas além dessa fase, é importante acompanhar o desenvolvimento da visão. E para isso são necessárias novas avaliações de rotina.
O bebê até os 6 meses de idade ainda não tem controle da movimentação ocular, e pode apresentar alguns momentos de desvio que logo normalizam.
O recém nascido percebe luz e vultos. O desenvolvimento da visão é variável para cada criança, mas aos 3 meses já consegue fixar objetos e entre 6 e 9 meses os olhos devem ter movimentos coordenados. Ao redor dos 4 anos a visão da criança é semelhante à do adulto, mas pode ser modulada até os 9-10 anos.
Não existe uma melhor idade para examinar a criança. Algumas crianças como os prematuros, devem ser avaliados no berçário. A criança deve ser examinada em qualquer época que apresentar um trauma ocular, estrabismo ou a "pupila parecer branca", pois um exame precoce pode preservar sua visão ou salvar sua vida se a causa for um tumor da retina.
Recomendamos avaliações aos 6 meses, 2 anos e 4 anos e a seguir a cada 1-2 anos para afastar alterações. A visão que a criança tiver aos 9 –10 anos, levará para o resto de sua vida, pouco adiantando a oclusão do olho "preguiçoso" após esta idade.
Assim como o olhinho, a orelhinha ganhou seu teste e, a partir de agosto de 2010, teve determinada sua obrigatoriedade nas maternidades, através de lei sancionada pelo presidente da República. O objetivo principal é a identificação precoce da deficiência auditiva.
Ouvir bem é fundamental para o desenvolvimento da fala e da linguagem. Assim, quanto antes se detectar esse problema, mais cedo podem ser tomadas medidas para se corrigir este quadro, beneficiando o bebê que está no início de seu desenvolvimento.
Você sabia que 3 em cada 1.000 recém-nascidos apresentam algum tipo de perda de audição?Hoje ainda é comum que os problemas auditivos só sejam detectados aos 2 ou 3 anos, quando a criança já apresenta dificuldades de comunicação.
O bebê pode apresentar problemas mesmo se na família não há nenhum caso de surdez. Com a detecção da deficiência auditiva após o segundo ano de vida, a criança perde, por causa de seu mundo silencioso, a fase mais importante da aquisição de linguagem e provavelmente terá dificuldades não só para se comunicar, mas também de inter-relacionamentos, já que vive num mundo de ouvintes.
O ideal é que se faça o teste ainda na maternidade, antes da alta, entre o 2º e o 3º dias de vida.
Ele é indolor, dura, em média, de 5 a 10 minutos e pode ser feito enquanto a criança está dormindo.
A princípio, todos os recém-nascidos devem passar por este exame. Mas há alguns grupos de risco que não podem ficar sem o teste da orelhinha de forma alguma.
Devem ser obrigatoriamente avaliados, os bebês prematuros, de baixo peso, com outro tipo de alteração no nascimento (APGAR de 0 a 6), infecções neonatais congênitas (rubéola, sífilis, toxopalsmose, etc) e adquiridas (meningite, septicemia), bebês que ficaram em respirador artificial ou usaram medicações ototóxicas no berçário já na maternidade.
Além desses, bebês com história de deficiência auditiva hereditária na infância na família, recém-nascidos portadores de alterações crânio-faciais (especialmente de alterações no pavilhão auricular e no canal auditivo) não podem passar sem esta avaliação precoce.
Uma vez que o teste da orelhinha foi normal, não há necessidade de acompanhamento. Certo? Errado. É necessário estar atento ao desenvolvimento de cada criança.
Sempre é bom observar a criança que não se assusta, não chora, não acorda com ruídos intensos, não reage a ruídos intensos inesperados, não imita sons, não se acalma com a voz materna, não vira a cabeça em direção da voz materna. Ficar atento, também, à criança que, quando solicitada, não aponta para pessoas ou objetos familiares, parou de balbuciar, não entende frases simples ("bater palminha","joga um beijinho pra vovó" ou "tchau" aos 12 meses).
Criança que não se vira procurando quem o está chamando com voz suave, não está alerta a sons ambientais, não começa a imitar e usar palavras simples de familiares ou outros sons da casa, não emite sons ou a fala de outras crianças da mesma faixa etária, assiste TV em volume alto pode ter alteração auditiva. Comprometimento escolar pode ser outro fator de alerta.
Assim, antes da alfabetização (por volta dos 4 anos de idade) a criança pode procurar uma avaliação audiológica com o otorrinolaringologista que orientará alguns exames (audiometria, imitanciometria, entre outros) para garantir que essa criança não sofrerá problemas em seu desenvolvimento por não escutar bem.
Quem não se lembra de ter usado ou de conhecer alguém que usou aquelas "terríveis" botinhas por conta de pés chatos?
E quem não se lembra que pés chatos liberavam os rapazes do alistamento militar?
Muitos conceitos mudaram.
A criança pode andar dos 9 meses aos 2 anos.
Assim, é importante que ela seja avaliada, preventivamente, já na maternidade.
Durante o exame clínico do recém-nascido, o pediatra avalia os quadris, rotineiramente, para afastar um quadro importante que é a luxação congênita.
No mais tardar, uma consulta de rotina com o ORTOPEDISTA INFANTIL deve ser realizada até os 3 anos de idade.
O arco medial do pé inicia sua formação entre os 2 e 3 anos de idade. Assim, de nada adianta uma avaliação ortopédica de "rotina" antes dessa idade. A imensa maioria das crianças até os 3 anos de idade apresentará pés chatos.
90% das crianças de raça branca formam o arco espontaneamente, enquanto 60% das crianças da raça negra apresentam pés planos.
Funcionalmente, os pés planos não apresentam nenhuma diferença dos pés ditos normais. Uma informação que pode desagradar algumas pessoas é que a presença de pés chatos não é, já há algum tempo, razão para liberação do serviço militar, como era em épocas passadas.
Na grande maioria das vezes, pés planos são fisiológicos e determinados pela genética. Assim, o uso de botas e palmilhas, andar descalço na areia ou na grama, andar sobre uma corda no chão, andar na ponta dos pés também não modifica a evolução desse quadro.
Mesmo que o tio, o primo ou até algum dos pais seja dentista, quem conhece melhor tanto os tratamentos como, principalmente, os processos de prevenção e promoção à saúde bucal das crianças é o odontopediatra.
Essa situação é tão relevante que até 2.008 o Brasil era o campeão mundial de cáries. Uma em cada 3 crianças entre 1 ano e meio e 3 anos apresenta pelo menos um dente de leite que cai antes do que deveria com cárie. Até os 5 anos de idade, essa proporção aumenta para 2 crianças em cada 3.
Do mesmo modo que seu bebê foi acompanhado por um médico especialista durante a gestação, antes de ele nascer, os dentinhos de seu filho também podem ser cuidados mesmo antes de erupcionarem.
O dentinho de seu filho começa a se formar por volta da 6ª semana de vida intra-uterina. Sendo assim, ao nascer, o "seu bebê" já possui todos os dentes de leite completos (pelo menos na forma de botão, dentro do osso alveolar), que apenas não erupcionaram (não nasceram).
A cárie é uma doença infectocontagiosa, ou seja, ela pode ser transmitida de pessoa para pessoa, através do contato direto com gotículas de saliva, beijo e, principalmente, no contato entre mãe e bebê.Aquele hábito de chupar a chupeta do filho que caiu no chão e colocar na boca das crianças, que muitas pessoas consideram normal, pode transmitir cáries.
A flora bacteriana da boca se completa entre 1 ano e meio e 2 anos e meio. Assim, até essa fase, o risco desse contágio aumenta.
Esse grande amigo do pediatra e das crianças pode dar a orientação a respeito de escovação, cuidados com chupetas, mamadeiras, mamadas noturnas, hábitos alimentares inadequados, protegendo a dentição na infância, garantido dentes saudáveis no adulto.
A primeira visita ao dentista deve ocorrer quando os dentes começam a nascer, normalmente por volta dos 6 meses de idade. E, a partir daí, a regularidade de consultas a cada 6 meses auxilia o controle odontológico, mantendo saudável uma das portas de entrada das doenças em nosso organismo.
E, independente de cada caso, sempre vale a pena lembrar a importância do aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545