Do site JorNow e do site da Revista Hospitais Brasil
Alguns assuntos não deveriam mais estar sendo conversados e discutidos, de tão claros e informados que eles são, mas a realidade nos mostra que não podemos deixar de falar e alertar se quisermos, de fato, provocar mudanças.
por Márcia Wirth
14/04/2014
Aleitamento materno, vacinação, obesidade infantil fazem parte do nosso-dia-a-dia e não importa quanto agimos e quanto informamos e quanto nos esforçamos percebemos, através das estatísticas e da avaliação da realidade que ainda estamos muito distantes de um consenso e de um bom senso.
Entre esses assuntos que merecem nossa atenção, a bola da vez é a DENGUE.
Minha primeira matéria sobre o assunto é de 2007, na qual eu comentava sobre o surto de dengue no Brasil . Naquele ano, até o mês de março, já haviam sido notificados mais de 85.000 casos, representando um aumento de quase 30% em relação ao mesmo período em 2006.
Vamos matar os mosquitos.
Vamos evitar águas paradas.
Vamos fechar caixas d’água.
Uma enorme campanha e uma enorme pressão.
No final de 2007 (outubro) escrevi uma atualização sobre a situação da dengue naquele ano e um dado chamou demais a atenção:
”Um dado curioso apresentado na mostra nacional do levantamento é a de que 55% dos entrevistados acham que se o vizinho não tomar as precauções necessárias para evitar dengue, as medidas que ele mesmo adotar não adiantarão.”
O alerta era para que a responsabilidade fosse compartilhada por todos nós. E parece que responsabilidade não é mesmo nosso forte.
Em 2010, nova matéria no site, exaltando os serviços do Instituto Adolfo Lutz, com uma epidemia de 1000 casos no Guarujá nos primeiros 3 meses do ano, com 7.500 casos suspeitos notificados no Estado de São Paulo e ressaltando que doenças (H1N1, norovírus e dengue) que poderiam ser prevenidas com cuidados simples (LAVAR AS MÃOS , MATAR MOSQUITOS E EVITAR ACÚMULOS DE ÁGUA PARA SUA PROCRIAÇÃO) estavam fora de controle.
Agora, em 2014, em começo de março aparece a notícia de que as taxas de dengue caíram, com redução de 80% do total dos casos (427.000 para 87.000), 95% menos óbitos e 84% menos de casos graves, em relação ao primeiro bimestre de 2013, segundo dados do Portal Brasil de 18 de março.
Porém o que temos visto em março e abril é que os casos de dengue voltaram a aumentar em escala de epidemia e algumas cidades como Maringá (1.200 casos confirmados até março), Brasília (2.285), Osasco (312 – tendo triplicado nos últimos 20 dias). Na cidade de São Paulo, segundo a Agência Brasil, houve um aumento de 42% dos casos comparados a 2013.
O ministério considera incidência média entre 100 e 300 casos por 100 mil habitantes. Acima disso, a incidência é considerada alta. A média da cidade de São Paulo está em 15,5 casos por 100.000 habitantes. Porém algumas regiões da cidade, especialmente zona Oeste, apresentam índices muito mais preocupantes. No Jaguaré, foram registrados 324 casos, com índice considerado alto, de 649,8 casos por 100 mil habitantes. Na Lapa, foram notificados 158 casos, com índice médio de 240,3 ocorrências por grupo de 100 mil habitantes. Na Zona Sul
Assim, como se observa, longe das informações otimistas, a dengue está aí.
A dengue é uma doença transmitida por um arbovírus (isso mesmo, é mais uma das viroses), com evolução benigna na forma clássica, mas que pode ser muito grave quando se apresenta na forma hemorrágica.
O vírus da dengue é um arbovírus e são conhecidos quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4.
Nas Américas, os vírus são transmitidos pela picada do mosquito do gênero Aedes aegypti. Ele mede menos de um centímetro, parece um mosquito comum, cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas.
Diferente da maioria dos mosquitos, o Aedes pica durante o dia e a noite, ao contrário do mosquito comum, que pica só durante a noite. Eles se proliferam dentro ou nas proximidades de habitações (casas, apartamentos, hotéis), em recipientes onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, caixas d’água).
A transmissão não acontece por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento.
A dengue é uma doença aguda que pode ter um quadro bem variável e inespecífico de sintomas, especialmente em sua fase inicial.
- Febre alta (acima de 39 – 40º) que começa rapidamente (do nada), que pode durar até 7 dias;
- Além disso, fraqueza, dor no corpo, nas articulações e no fundo dos olhos, dor de cabeça, náuseas e vômitos são os sintomas mais comuns da dengue clássica. Se além desses sintomas houver dores abdominais contínuas, suor intenso e queda de pressão, tem que se suspeitar de dengue hemorrágica.
Além da suspeita clínica, devem ser feitos exames laboratoriais complementares:
- Hemograma com contagem de plaquetas.
- PCR para dengue.
- Sorologias para dengue (identificam o tipo de vírus – 1,2, 3 ou 4)
Não há tratamento específico para o quadro além de hidratação, repouso e medicação para os sintomas. Não se deve usar Ácido Acetil Salicílico (pode evoluir para dengue hemorrágico). Mesmo assim, tanto o diagnóstico quanto o tratamento só devem ser feitos por um médico, após examinar o paciente. NUNCA AUTOMEDIQUE.
Apesar de muita pesquisa, ainda não existem vacinas para dengue.
- Dengue não é contagiosa. Sua transmissão só acontece pela picada do mosquito Aedes aegipty.
- O mosquito se multiplica em águas paradas, normalmente perto das casas. Não deixe acumular água em vasos de plantas, pneus. Não deixe caixas d’água abertas.
- Dengue é uma doença de notificação compulsória, conforme PORTARIA Nº 104, DE 25 DE JANEIRO DE 2011 (pagina 4). Isso quer dizer que todo caso de Dengue confirmado deve ser comunicado ou nos postos de saúde ou até online (por exemplo – para o CVE). Através dessa comunicação a Vigilância Epidemiológica poderá tomar as providências para o rastreamento e contenção dos casos.
- Outros quadros podem parecer dengue, especialmente na fase inicial como gripe, sarampo, rubéola e outros quadros virais. Com febre alta e se estiver em região já com casos de dengue confirmados, procure imediatamente um serviço médico.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545