Do site Tempo de Mulher
Não é novidade que quase todo bebê estabelece uma relação com a naninha ou paninho no berço. Em outros locais, esse acessório também é conhecido como fraldinha. É como se aquele pedaço de pano fosse o amigão inseparável de todas as horas. Tanto é que muitas crianças relutam quando os objetos são lavados. Mas, afinal, por que elas ficam tão apegadas com eles? Qual deve ser o momento ideal para que os pais tirem esses objetos dos filhos?
por Madson Moraes
07/02/2014
© Foto: Thinkstock
"Naninhas e paninhos são importantes e geram proteção e conforto para a criança, fazendo parte daquilo que chamamos de objetos de transição", afirma o pediatra Moises Chencinski, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Por isso, a recomendação do especialista é que a criança tenha dois paninhos ou naninhas. Sendo assim, cada vez que for lavar um, os pequenos usam o outro. "E quando esses acessórios voltarem da lavagem, a mãe deve ficar próxima deles para que o paninho e naninha tenham o contato e o cheiro dela. Dessa maneira, a criança não estranha e não mantém por perto aquele paninho horroroso e babado", recomenda.
A criança se apega a esses objetos, o que traz mais segurança e estabilidade aos pequenos. "Isso é um comportamento natural no desenvolvimento emocional das crianças. Faz parte do crescimento sadio e os pais não devem encarar como um problema. Isso cumpre uma função", opina a psicóloga Christine Bruder, da Primetime Child Development, centro de desenvolvimento infantil para bebês de 0 a 3 anos.
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Moises Chencinski explica que, entre o oitavo e o nono mês de vida, o bebê entra numa fase que é conhecida como a "crise da angústia da separação". O que isso quer dizer? Isso ocorre porque o bebê percebe que ele não é a mãe, a mãe não é ele, e cada vez que a mãe sai do quarto, ela sai do ambiente em que ele está. Ele, então, chora e sente a falta dela. Uma das ideias para ajudar o bebê a superar essa crise é deixar um representante da mãe no berço quando ela sai.
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A criança, ao adotar um objeto para dormir com ela, muda de um processo de dependência absoluta para um outro de dependência relativa da mãe. E isso é importante para o amadurecimento e independência dos pequenos. "Há teorias que mostram que essa naninha e paninho dão a sensação de conforto, proteção e "colo da mãe". É como deixar um representante materno quando ela não está. O olfato do bebê é bastante desenvolvido", explica o pediatra e autor do livro "Gerar e nascer - um canto de amor e aconchego".
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Para Christine Bruder, permitir que esse paninho ou naninha existam é garantir a independência emocional futura da criança. 'Fazem parte do desenvolvimento sadio. Não é da alçada dos pais querer regular, controlar e limitar. Isso cumpre uma função e não são todas as crianças que têm um objeto de apego. O ideal é que a criança deixe de precisar e comece a esquecer. Num dia ela esquece na casa da vó, no outro dia fica no carro, em outro ela não pede mais', explica a psicóloga.
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Moises explica também que a dependência desses objetos de transição é aceitável até 4 ou 5 anos, mas isso é uma generalização. "Há crianças que necessitam disso por mais tempo e outras por menos. Esta transição é fundamental para o amadurecimento dos bebês, além de abrir espaço para o desenvolvimento da criatividade e a capacidade de brincar", completa o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
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O pediatra explica que, por ser um objeto de transição, o ideal é que as naninhas e os paninhos não saiam do berço ou da cama. "Não é para ser carregado por aí. À noite, na hora em que a criança vai dormir, é a hora que ele começa a entender que não vai ter ninguém ao lado dela. Então, a naninha ou paninho estarão ali representando a presença da mãe", explica Moises.
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O paninho ou naninha é para ser dado na hora em que a criança vai deitar. Não é para comer com ele, nem ver TV. É para dormir. "Ah, mas ela está assistindo TV na sala e lá adormeceu. Vou dar a naninha lá mesmo. A criança não deve adormecer vendo televisão, muito menos na sala. O lugar de ela deitar e dormir é no quarto, então, é para lá que o pequeno deve ir. Com isso, ele vai criar o hábito de dormir apenas no quarto", ressalta Moises Chencinski.
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E quando a dependência fica intensa com esses objetos de transição? Quando aquele paninho e naninha passam a representar e a ser um objeto não de transição, mas um objeto de segurança dela. E isso não é favorável nem positivo. Uma vez a criança se sentindo segura, apoiada, compreendida, ela consegue adormecer e passar as noites sem a presença desses objetos de transição no berço.
"Com o tempo, a criança acaba substituindo o paninho e a naninha por um bicho de pelúcia, outro brinquedo que ele leva para dormir junto, uma bola por exemplo. Os objetos de transição são absolutamente naturais no desenvolvimento da criança. E algumas crianças nem tem necessidade desses objetos", assegura Moises.
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"Não faça nada na trairagem. Nada deve ser feito de maneira escondida. Ah, eu escondo as verduras no meio da comida. Você não está fazendo essa criança aprender a comer aquele alimento. Você a está enganando. Se o seu filho descobrir isso, ele vai passar a rejeitar essa alimentação. A mesma coisa pode acontecer se você tirar um objeto de transição - como a naninha ou o paninho. Você corre o risco de perder a confiança dessa criança e ela se sente mais insegura. Com isso, ela vai acordar a noite toda porque não sabe se o paninho estará lá ou não", conclui o pediatra.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545